Boletim
da Santa Sé
(Tradução
de Nicole Melhado - equipe CN Notícias)
Celebração de Pentecostes
Basílica Vaticana
Domingo, 27 de maio de 2012
Queridos irmãos e irmãs!
Estou feliz por
celebrar convosco esta Santa Missa, animada hoje pelo Coral da Academia de
Santa Cecília e pela Orquestra Jovem – aos quais agradeço -, na Solenidade de
Pentecostes.
Este mistério constitui
o batismo da Igreja, é um evento que a deu, por assim dizer, a forma inicial e
o impulso para sua missão. E esta “forma” e este “impulso” são sempre válidos,
sempre atuais, e se renovam, de modo particular, mediantes as ações litúrgicas.
Esta manhã gostaria de abordar um aspecto essencial do mistério de Pentecostes,
que em nossos dias conserva toda sua importância.
O Pentecostes é a festa
da união, da compreensão e da comunhão humana. Todos nós podemos constar como
em nosso mundo, mesmo se estamos sempre mais próximos uns dos outros com o
desenvolvimento dos meios de comunicação, e as distancias geográficas parecem
desaparecer, a compreensão e a comunhão entre as pessoas são sempre
superficiais e difíceis.
Persistem
desequilíbrios que muitas vezes levam a conflitos; o diálogo entre as gerações
torna-se difícil e às vezes prevalece a oposição; assistimos a acontecimentos
cotidianos onde parece que os homens estão se tornando mais agressivos e mais
irritados; a compreensão parece que requer muito empenho e prefere-se
permanecer no próprio eu, nos próprios interesses. Nesta situação, podemos
encontrar realmente e viver aquela unidade que precisamos?
A narração de
Pentecostes, nos Atos dos Apóstolos, que escutamos na primeira leitura (cfr At
2,1-11), contém no fundo um dos últimos grandes afrescos que encontramos no
início do Antigo Testamento: a antiga história da construção da Torre de Babel
(cfr Gen 11,1-9).
Mas o que é Babel? É a
descrição de um reino no qual os homens concentraram tanto poder ao pensar que
não deveriam mais fazer referência a um Deus distante e serem assim fortes para
poder construir sozinhos um caminho que os levasse ao céu para abrir as portas
e colocarem-se no lugar de Deus.
Mas justamente nesta
situação se verifica algo estranho e singular. Enquanto os homens trabalhavam
juntos para construir a torre, de repente, eles perceberam que construíam um
contra o outro. Enquanto tentavam ser como Deus, corriam o perigo de não serem
mais nem mesmo homens, porque perderam um elemento fundamental no serem pessoas
humanas: a capacidade de concordarem, de compreenderem-se e de trabalharem
juntos.
Esta narração bíblica
contém uma verdade perene; podemos ver ao longo da história, mas também no nosso
mundo. Com o progresso das ciências e das técnicas encontramos o poder de
dominar as forças da natureza, de manipular os elementos, de fabricar seres
vivos, chegando quase ao próprio ser humano.
Nesta situação, rezar a
Deus parece algo ultrapassado, inútil, porque nós mesmos podemos construir e
realizar tudo aquilo que queremos. Mas não nos notamos que estamos revivendo a
mesma experiência de Babel. É verdade, multiplicamos as possibilidades de
comunicação, do acesso a informações, de transmissão de noticias, mas podemos
dizer que cresceu a capacidade de compreensão ou talvez, paradoxalmente, nos
compreendemos sempre menos? Entre os homens não parecem serpentear talvez um
sentimento de desconfiança, suspeita, medo recíproco, até o ponto de se tornar perigo
um para o outro? Voltamos novamente para a pergunta inicial: pode haver
realmente unidade, harmonia? E como?
A resposta, nós
encontramos na Sagrada Escritura: a unidade pode existir somente com o dom do
Espírito de Deus, que nos dá um coração novo e uma nova língua, uma capacidade
nova de comunicação. E isso é aquilo que se verificou em Pentecostes. Naquela
manhã, cinquenta dias depois da Páscoa, um vento forte soprou sobre Jerusalém e
a chama do Espírito Santo desceu sobre os discípulos reunidos, pousou sobre
cada um e acendeu neles aquele fogo divino, um fogo de amor capaz de
transformar. O medo desapareceu, o coração sentiu uma nova força, as línguas se
desfizeram e iniciaram a falar com franqueza, de modo que todos podiam
compreender o anúncio de Jesus Cristo morto e ressuscitado. Em Pentecostes,
onde existia divisão e estranhamento, nasceu unidade e compreensão.
Mas observemos para o
Evangelho de hoje, no qual Jesus afirma: “Quando vier o Paráclito, o Espírito
da verdade, ensinar-vos-á toda a verdade” (Jo 16,13). Aqui, Jesus, falando do
Espírito Santo, nos explica o que é a Igreja e como essa deve viver para poder
ser ela mesma, para ser o lugar da unidade e da comunhão da Verdade; diz-nos
que agir como cristãos significa não ser fechados no próprio “eu”, mas
orientar-se para todos; significa acolher em si mesmo toda a Igreja ou, ainda
melhor, deixar interiormente que essa nos acolha.
Então, quanto falo,
penso, ajo como cristão, não o faço fechando-me no meu eu, mas faço-o sempre no
tudo e a partir de tudo: assim, o Espírito Santo, Espírito da unidade e da
verdade, pode continuar a ressoar em nossos corações e nas mentes dos homens e
impulsioná-los a se encontrarem e acolherem-se reciprocamente. O Espírito,
justamente pelo falo que age assim, nos introduz em toda verdade, que é Jesus,
nos guia para aprofundá-la, compreendê-la: nós não crescemos no conhecimento fechando-nos
em nosso eu, mas somente tornando capazes de escutar e compartilhar, somente no
“nós” da Igreja, com a atitude de profunda humildade interior.
E assim, torna mais
claro porque Babel é Babel e Pentecostes é Pentecostes. Onde os homens querem
fazer-se Deus, somente colocam-se uns contra os outros. Onde, em vez,
colocam-se na verdade do Senhor, abrem-se para a ação do Espírito que os
sustenta e os une.
A oposição entre Babel
e Pentecostes também ecoou na segunda leitura, onde o Apóstolo diz: “Deixai-vos
conduzir pelo Espírito, e não satisfareis os apetites da carne” (Gal 5,16). São
Paulo nos explica que a nossa vida pessoal é marcada por conflitos interiores,
por uma divisão, entre os impulsos que provêm da carne e aqueles que provêm do
Espírito; e nós não podemos seguir a todos. Não podemos, de fato, sermos
contemporaneamente egoístas e generosos, seguir a tendência de dominar os
outros e provar a alegria do serviço desinteressado.
Devemos sempre escolher
aquele impulso e podemos fazer de modo autêntico, somente com a ajuda do
Espírito de Cristo. São Paulo elenca – como vimos – as obras da carne, são os
pecados do egoísmo e da violência, como inimizade, discórdia, inveja e ciúme;
são pensamentos e ações que não fazem viver de modo verdadeiramente humano e
cristão, no amor. É uma direção que leva a perda da própria vida. Em vez, o
Espírito Santo nos guia para as alturas de Deus, para que possamos viver já
nesta terra a semente da vida divina que está em nós.
Afirma, de fato, São
Paulo: “O fruto do Espírito é a caridade, a alegria, a paz” (Gal 5,22). E
notamos que o Apóstolo usa o plural para descrever as obras da carne, que
provocam a dispersão do ser humano, enquanto usa o singular para definir a ação
do Espírito, fala do “fruto”, justamente como a dispersão de Babel se contrapõe
a unidade de Pentecostes.
Queridos amigos,
devemos ser segundo o Espírito de unidade e verdade, e para isso devemos rezar
para que o Espírito nos ilumine e nos guie para vencer o fascínio de seguir
nossa verdade, e para acolher a verdade de Cristo transmitida na Igreja.
A narração de Lucas do
Pentecostes nos diz que Jesus antes de subir ao Céu pede aos Apóstolos que
permanecem juntos para prepararem-se para receber o dom do Espírito Santo. E
assim se reuniram em oração com Maria, no Cenáculo, a espera do evento
prometido (cfr Ato 1,14). Recolhida com Maria, como em seu nascimento, a Igreja
também nesse dia reza: “Veni Sancte Spiritus! – Vem, Espírito Santo, enchei os
corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor!” Amém.
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