domingo, 17 de abril de 2011

MAIS UMA SEMANA SANTA?

Pe. José Lenilson de Morais,
Paróquia de Nossa Senhora do Ó, Nísia Floresta

De 17 a 24 deste mês celebraremos a Semana Santa do ano 2011. Tenho sempre me perguntado se a maioria das pessoas procuram viver estes dias como momento especial para reaproximação mais coerente da Jesus Cristo ou, simplesmente, temos vivido como “mais uma semana santa”. Esse mundo está tão confuso, os cristãos demasiadamente entrincheirados em igrejas e seitas, os sinais de morte aparecem por tudo o que é lado, até mesmo a natureza geme em dores de parto ou de agonia... A esperança quase se nos foge. Ao ligar a televisão, violência e bobagem estão na “ordem do dia”; ao acessar a internet, intrigas, fofocas e comentários medíocres e maldosos imperam, destruindo a ética e o respeito pelo outro. No mundo globalizado a comunicação é farta, mas a fraternidade é parca, e a verdade parece não existir, ou melhor, cada um tem e vende a sua. Temos visto e ouvido de tudo, o que gera, por um lado, a indiferença e, por outro, o desejo de vingança, não de justiça. Criticamos tanto a Idade Média, as fogueiras da inquisição, o estado teocrático, e continuamos a levantar labaredas de ódio por causa dos deuses do consumo e do capital. Criticamos as passadas repressões da liberdade para justificar todo tipo de infâmia, de má fé e de acusações sem provas e, às vezes, sem fatos... É o mundo das “twittadas”. Os pobres são presos, humilhados, maltratados porque não podem se defender; outros roubam de todas as formas, aumentando o que a maioria paga para consumir e determinando que se lhes pague o salário legalmente reajustado. E, como se não bastasse, depois de todas as misérias que geramos, que permitimos ou que negligenciamos ainda ousamos dizer: “onde está Deus?, onde ele estava?”. Talvez a pergunta deva ser invertida: onde estávamos nós, quando o Deus do amor, da compaixão, do respeito e da fraternidade nos procurava?
Normalmente, esquecemos a face amorosa e terna de Jesus de Nazaré e preferimos as caricaturas que desenhamos para, conscientes ou não, colocarmos a culpa em Deus e na religião, que só entra na “manchete” quando o tema é ligado a erros e crimes de alguns de seus membros. O Calvário de Cristo se repete: cuspimos no seu rosto humilhando os necessitados; rasgamos suas vestes usurpando os assalariados; chicotemos seu corpo quando espancamos os presos e acusados; nós o condenamos à morte quando disparamos contra inocentes ou contra réus por sede de vingança. Será esta apenas “mais uma semana santa”? Ou, ao contrário, algo novo surgirá em nós como fruto da Quaresma, da Campanha da Fraternidade, do Evangelho de Cristo tão difuso e instrumentalizado, mas ainda pouco vivido.
Deus tenha piedade de nós! A Semana Santa só não será mais um feriadão para contabilizarmos gastos e acidentes de transito se entrarmos no ministério do único Deus que, na autodoação total, sofre inocentemente para nos garantir a vida e a paz. A Ressurreição é o objetivo, a meta e o sentido maior da Semana Santa. Oxalá morrêssemos para alguma coisa, para algum egoísmo, maldade, maledicência, disputa, pecado, a fim de, com Ele, ressuscitarmos para a Vida Nova. Que Ele, o Cristo, o sumo Bem e Verdade, oriente os nossos corações para uma Semana Santa de atitudes novas e transformadoras, também em vista do cuidado com o Planeta Terra, nossa casa comum. Há esperança, mas esta só se torna salvação para nós e para a nossa “Terra Mãe” se buscarmos, definitivamente e com decisão, a superação de toda forma de egoísmo e opressão, pois não se recupera o planeta com bons desejos e ninguém chega ao céu, desprezando os outros, que são “os pecadores”. Ou nos salvamos juntos, em comunhão, ou nada teremos com Ele (Cf. Mt 25, 31-46).

Um comentário:

  1. PARABÉNS, Pe. LENILSON, pela excelente reflexão, pois a semana santa está cada vez mais perdendo o seu verdadeiro sentido e se transformando num "feriadão" e cabe a todos nós recuperarmos a identidade da semana santa.

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