segunda-feira, 18 de abril de 2011

EM MINHA MENTE, O DEUS ONIPRESENTE

Seminaristas. Francisco de Assis e
Erivan Junior
Natal/RN


A pós-modernidade não dá razões suficientes para crer em Deus. Pode ser que tal posição tenha rastros de verdade inquestionáveis, pois diante de tantos atos contraditórios de um Deus que se diz ser misericordioso, não é impossível deslumbrar a possibilidade de sua existência ser inválida, ou até mesmo mítica.
As razões da existência de Deus talvez sejam apenas um ressoar da necessidade humana que busca um fundamento mais confiável para a sua existência. Além do mais, Russel levanta uma questão um tanto capciosa quando indaga a possibilidade de um Deus universal que não se manifesta para todos de uma forma reveladora, mas escolhe apenas uma porção para exprimir o seu projeto. Seria acaso este um Deus excludente?
Os pormenores relatos criacionistas expostos nos Livros Sagrados não se encaixam em uma forma racionalista de atribuir a Deus a existência das coisas todas, pois não difere das culturas pagãs ( Maria Antonia Marques), que buscavam diante do inexplicável uma “resposta convincente” para as suas indagações em relação ao cosmos. Neste sentido, pode-se crer sem entender? Não seria mera tentativa de justificar aquilo que é obscurecido pelo decorrer do linear histórico inevitável, sem prerrogativas eficazes e convincentes?
Talvez não tenha sido sem motivos nem por acaso que Nietzsche anunciou explicitamente “a morte de Deus”; pois só via Nele uma espécie de nebulosidade que não permitia chegar ao cumprimento da verdade. Neste sentido, o homem só pode se libertar de suas correntes, aquelas que o impedem de progredir, quando abraçar profusamente o niilismo absoluto, pois não ficará preso a uma possível culpabilidade em agredir a Deus.
Além destes já citados, outros filósofos indagaram a real existência de Deus: o alemão Kant afirma que o homem não pode captar o ser das coisas em si. Sendo assim, o homem apenas representa - através das palavras - “aspectos caricaturais” do ser, porque está à mercê de sua sensibilidade que se localiza dentro do tempo e do espaço. É limitada a tentativa de “conhecimento real” do mundo (a coisa em si) porque também é limitada a nossa forma de conhecer; não conseguimos abstrair a sua mais pura realidade, mas apenas como ela nos aparece na representatividade das coisas (a coisa para nós).
Poderíamos citar ainda tantos outros filósofos que põem em evidência a não-possibilidade da existência de Deus; todavia, embasado nestas definições filosóficas, concluo esse raciocínio afirmando que o homem não pode provar a existência de Deus, pois há aí um uso errôneo da razão ao tentar provar algo que o ultrapassa e que não pode ser representado por ele.

PRA MIM DEUS ESTÁ EM TUDO, E ESTÁ TAMBÉM TODO EM MIM

Nem tudo aquilo que não se pode provar ou experimentar, sensivelmente ou empiricamente falando, é sinal da não existência de algo. Eu não sei qual é a forma do vento, mas mesmo assim sei que ele existe... Pois posso senti-lo! Falar ou acreditar na existência de Deus como ser que está em toda parte, é algo que não é para qualquer um. Isto é: Deus quis ser Deus para todos, mas não quis obrigar ou forçar a todos a acreditar em sua existência. Já nos diz santo Anselmo, “é necessário crer para entender”. Ou seja, só se acredita em Deus que tem fé. A fé é o principal instrumento para se acreditar em Deus.
Destarte, é a fé que faz com que se acredite e se aceite que Deus é mistério. E mistério não se revela. Com a fé também se acredita que Deus é inefável. Agora será que realmente sabemos ou compreendemos isso? Exprimir Deus por palavras é algo impossível às nossas categorias humanas. O homem expressa Deus somente através da aproximação.
É bom que o pensador moderno também saiba que em Deus não há lógica. Isto é, Deus é um ser ilógico. Mas, como muitos não levam em consideração esta afirmação, é interessante saber que na lógica clássica, quando negamos uma coisa - seja lá qual for - é a mesma coisa que afirmá-la. Quando digo que algo não existe, imediatamente, através de meu pensamento, aceito a existência daquela tal coisa.
Deus existe desde toda a eternidade. Quando se diz que Deus só existe porque o humano o cria, se peca contra o transcendente. Na verdade, os homens só existem porque Deus quis precisar deles. Ele já existia desde sempre. Como se sabe na pessoa de Deus não há o tempo cronológico, Deus é. Quando Deus quis se revelar a Israel, não excluiu, de forma alguma, as outras tribos ou grupos de pessoas da época. Mas na Revelação a raça escolhida é representação universal: Israel representa então toda a humanidade.
Depois disso tudo se compreende que é necessário “crer para entender”. Sem acreditar jamais compreenderemos algo misterioso. Deus é Mistério, e mistério não se revela. Por isso é mais fácil crer no invisível do que duvidar ou indagar. Com o não acreditar, deturpa-se a imagem do divino. Quando Nietzsche afirma “a morte de Deus”, será que não está se relacionando com a perda dos valores da sociedade atual? “Deus morreu!”, quer dizer, o mundo não valoriza mais o religioso. O sagrado se tornou profano. A afirmação nietzschiana da morte de Deus deverá ser entendida como uma reação da realidade atual e futura, levando-se em consideração a disseminação do ateísmo.
Quanto à afirmação kantiana, não é percepção excludente da pessoa de Deus. Quando trata da “coisa em si” ou das coisas fenomênicas, Kant quer logicamente mostrar que Deus não está fora dessa realidade. Mas isso é no sentido de que não é necessário reduzir Deus a uma realidade empírica. Pois Deus não é conhecido como um mero objeto... Como já foi dito, em Deus não há lógica. Mas entendamos: Deus existe na realidade e também em nosso intelecto.
Portanto, Deus existe e está em tudo! E, além de estar em todas as coisas, está também em nosso intelecto! Para provar a existência de Deus, é necessário primeiramente crer, para só depois tentar entender.

Um comentário:

  1. É um verdadeiro duelo de Titãs, espero novas discussões filosóficas e teológicas, pois estas nos enriquecem muito e nos levam a refletir e a ver o mundo de um outro ângulo.

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