terça-feira, 27 de setembro de 2011

PE. AGOSTINHO FALA SOBRE A VIAGEM DO PAPA A SUA TERRA!!!

PROFETA EM SUA TERRA?

Ninguém é profeta em sua terra. Nem o próprio Jesus. Ou, como se diz no popular: o santo, quanto de mais longe, faz mais milagres.
Na Jornada Mundial da Juventude, em Madri no agosto passado, Bento XVI foi aplaudido por dois milhões de jovens. Duplicou as expectativas mais otimistas, apesar de que a mídia fez questão de nos mostrar os ínfimos protestos pela viagem papal.
Nestes dias, o Papa alemão esteve em sua terra. A tradicional Alemanha, dividida entre luteranos e católicos, metade dos uns e outra metade dos outros, mudou. Ao indiferentismo religioso se acumula o laicismo ou agnosticismo militante e a eles, se juntam os protestos dos de sempre. Quiseram reunir vinte mil pessoas para, de um modo ou outro, protestar contra o Papa alemão de Roma. Os médios mais otimistas falaram de nove mil pessoas; outros, de cinco mil, que se reuniram na tradicional porta de Brandenburgo.
E ainda, na Alemanha. tem que se contar com a invasão islâmica de trabalhadores. Na atualidade se contam entre 3,8 e 4,3 milhões de muçulmanos, dos quais uns 60% são turcos. Para estes o santo Padre disse que “os muçulmanos são um componente da Alemanha”. Procurou a harmonia que se desfez no discurso de Ratisbona, em sua anterior viagem. Como se diria no popular: não é bom cutucar onça com vara curta.
O Papa alemão falou no Bundestag (Parlamento) e, lembrando a santo Agostinho alertou sobre o risco de que, quando o Estado não defende o direito e a justiça, pode se tornar uma “quadrilha de bandidos”. Razões não faltam ao Papa para pensar assim. Porém, uma centena de deputados, por causa de que a Alemanha é um país laico, não quis ouvir a palavra do Papa de Roma. Os presentes, aplaudiram com entusiasmo.
No Reichstag (prédio do Parlamento) e para os judeus, o santo Padre lembrou “o ídolo pagão de Hitler que quis substituir a Deus”. Um bálsamo para as orelhas israelitas, a oliveira onde foi enxertada a igreja.
No Estádio Olímpico de Berlin, repleto até o tampo, o Papa Ratzinguer celebrou a eucaristia para setenta mil pessoas, e escutaram dele o convite para “permanecer na Igreja” apesar da “experiência dolorosa de que na Igreja há peixes bons e maus, e grão e cizânia”. Aqui temos, na base destas palavras, a constatação de que cento e oitenta mil alemães abandonaram a Igreja por causa dos escândalos da pedofilia - dizem. Também as igrejas protestantes tiveram semelhante deserção. Mas é claro que, quem procurar motivos para deixar a Igreja vai encontrá-los, assim como quem quer permanecer, também.
Na cidade de Erfurt, no mesmo mosteiro onde estudou Lutero e berço do protestanstismo, o Papa se manteve firme na fé católica quando observou, perante os máximos representantes evangélicos, que “a fé não é negociável”. Um jarro de água fria nas expectativas de dar mais um passo para a união das igrejas católica e luterana alemãs, que sabem que seus fiéis se sentem irritados com a secular divisão (em palavras do presidente do Congresso alemão). Os protestantes haviam esperado um “presente ecumênico”, porém a palavra que mais se escutou deles foi: decepção!
Também sentiu consternação no encontro com algumas das vítimas da pedofilia por parte de alguns sacerdotes alemães. Mesmo que esta lacra atormente a sociedade alemã não apenas entre os católicos.
Na cidade de Erchsesfeld, santuário mariano, fez peregrinação mariana, como devia ser. Rezou vésperas com noventa mil fiéis. Houve benção do santíssimo Sacramento. Na vigília desafiou aos jovens para serem “luz do mundo”.
A Missa campal participada por uma multidão no aeroporto de Friburgo foi o ponto final da visita, onde cem mil pessoas despediram com orgulho alemão o fato de que no trono de São Pedro há um Papa alemão. No fim, se reuniu com alguns representantes de agrupações católicas.
Destaco a fantástica organização da visita papal, além da maravilhosa e clássica música alemã que acompanhou as celebrações. Não posso deixar de marcar a participação da luterana, Chanceler Angela Merkel na Eucaristia. Claro que, na Alemanha é diferente, pois não faltam luteranos que freqüentam as Missas, nem católicos que participam de cultos protestantes. Mesmo que também há quem reclama destes comportamentos.
O anúncio central da visita papal tinha o grande slogan: ONDE DEUS ESTÁ PRESENTE, HÁ ESPERANÇA.
E assim foi a visita do Papa que, certamente, ninguém pode dizer que foi a de um profeta em sua terra e entre os seus. Ao contrário do Papa polonês, Woytila, que sim foi profeta em terra própria, levando o sindicato Solidariedade até a presidência da Republica na Polonha, derrubando os muros comunistas e possibilitando a transformação da Santa Rússia num novo império, agora, capitalista.
Certamente João Paulo II foi um homem admirável em muitos aspectos, já beatificado. Um profeta triunfante, se é que houve algum. Mas foi o ancião Bento XVI quem teve que levantar os tapetes onde se esconderam as sujeiras da igreja, vassoura em mão e com lágrimas nos olhos, e segurar firme a poeira que João Paulo II levantou pelo mundo afora com suas viagens e sua popularidade incontestável, por mais que certos meios quisessem colocar água fria na fervura. Este Papa sabe esperar e deixar que o tempo limpe; ou os anjos do céu que separarão o joio do trigo. O Papa polonês veio para triunfar. O papa alemão, para partilhar a sorte dos velhos profetas: veio para sofrer pelos pecados de outros, para reavivar a fé da Igreja amornada pela rotina, segundo ele mesmo denunciou.
Por se fosse pouco, algum jornal italiano, aproveitou para insinuar a renúncia do Papa, para o ano próximo, quando completará oitenta e cinco anos. O porta-voz do Vaticano, o jesuíta Lombardi, desmentiu.
A crítica mais quente que li, foi que o Papa não falou na crise econômica que açoita a Europa... Penso: só faltava isso! Que nós, clérigos, tivéssemos que falar sobre um mundo acostumado a viver no crédito fácil, promovido por bancos e financeiras que só investem no lucro do capital e que afoga o capital produtivo. Dinheiro que faz dinheiro e que se esconde em paraísos fiscais à espera de melhores dias, cuja única finalidade é fazer mais dinheiro, sem se importar com a vida real das empresas, dos trabalhadores, dos desempregados e etc. Só faltava isso!
Terminando vejo que caí num terrível defeito que me faz lembrar o antigo provérbio espanhol: “todas las comparaciones son odiosas”.

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