sexta-feira, 20 de maio de 2011

VOCAÇÃO: SABER OUVIR E ESCOLHER A MELHOR PARTE

“Antes que fosses dado à luz, Eu te consagrei” (Jr 1, 5)
Fabiano Campos da Cruz
2º ano de Filosofia

Ao ser convidado para partilhar um pouco da minha simplória história vocacional com os ilustres seguidores deste blog, muitos fatos e pessoas passaram em minha memória compondo um mosaico cheio de sinais da presença de Deus, que seria impossível descrevê-los pormenorizadamente sem olvidar nenhuma graça Divina. Entretanto, me arriscarei ao menos a fazer um giro perficiente do meu chamado que abarque alguns pontos emergentes.
Minha história vocacional, onde Deus se manifesta convocando-me ao seu serviço, se confunde, e muito, com a história da minha vida. E, entendendo eu, que “o chamado” não se limita a um momento específico, mas na continua realização divina na vida do Seu eleito, pincelo estas linhas autobiográficas encharcadas do clamor: “Pasce ovis meas!” (Jo 21, 16).
Sou o filho do meio de três irmãos, nasci e me criei numa paróquia da cidade de São Gonçalo-RJ, onde posso dizer que fui seduzido por meu Amado. Desde muito pequeno meus pais me iniciaram na vida de oração e principalmente no amor e devoção a Nossa Senhora. Jesus e Maria estavam tão próximos de nosso dia a dia que, já desde muito cedo, não haveria mais como separá-los de mim. Sempre cultivei boas virtudes a exemplo de meus pais e aos 7 anos eles me conduziram à catequese. Lembro que, na minha inocência, eu chorava muito, pois, depois de já haver lido muitas vezes a história de Jesus, acreditava que para receber Jesus na Comunhão era necessário passar por tudo aquilo que Ele passou. A imagem do crucificado era muito presente pra mim, chegava a imaginar-me no lugar de Jesus e, apesar do choro, nunca desejei voltar atrás. Durante o período de catequese fui conhecendo e me encantando com a santa vida do meu pároco, e cultivando no meu coraçãozinho uma enorme admiração por aqueles que eu considerava os “melhores amigos de Deus”. Tendo passado algum tempo de catequese, certo dia, fui ouvir alguns seminaristas que foram a nossa paróquia para palestrar sobre o Sacramento da Ordem. Neste dia, todo encanto que já havia, resplandeceu num imenso desejo de dar tudo para ser amigo de Jesus e de segui-lo intimamente. A admiração, então, converteu-se em decisão. Uma decisão ainda muito imatura e frágil, mas que seria essencial nos passos vindouros e que com os nutrientes necessários amadureceria e se fortaleceria. Cultivei durante toda minha infância e adolescência do desejo de ser sacerdote de Deus, buscava aproximar-me de tudo o que era sagrado e afastar-me de tudo o que não convinha a um amigo de Jesus. Assim, em tudo que fazia me questionava se Jesus teria a mesma conduta. E este era o meu parâmetro vida.
Já entrando na fase jovial de minha existência, fui distanciando fisicamente da vida mística que até então levava. A universidade, os “amigos” e os maus exemplos despertaram-me uma sensibilidade crítica que atingiu o divino que havia em mim, levando a questionar-me: “Será que é Deus quem me chama para ser padre, ou será que sou eu que quero que Ele queira?” A essência da minha dúvida pairava sobre até onde o meu eu interior influenciaria na interpretação dos “supostos” sinais de Deus. Por isso, virei a página da minha vocação pretendendo não mais abri-la, até que Deus mesmo me mostrasse por claros sinais o que de fato Ele queria de mim. Os anos foram se passando e, por não buscar a vocação, consequentemente, não buscava mais a Deus e o Seu reino. Lembro-me que os meus dias eram terríveis: durante a semana, na universidade, eu era todo mundano e nada se via em mim nem de um cristão quanto mais de um vocacionado; e nos fins de semana, na Igreja, amargava-me o mal do pecado e eu clamava ao Senhor perdão e que Ele me libertasse do meu cativeiro. No entanto, tudo se repetia. Eu não tinha ânimo, ou melhor, atitude para voltar ao Senhor.
No início do mês de outubro de 2005, ano em que vim morar na cidade de Natal, houve na Catedral Metropolitana um retiro de dois dias com o Padre Roberto Lettieri, fundador da Fraternidade Toca de Assis. Antes, nunca havia conhecido pessoalmente este padre, mas suas pregações sempre arderam no fundo da alma. Fui ao retiro mais impulsionado por minha irmã do que pela minha própria vontade. Mas quanto iniciou-se, mais e mais eu deseja ficar e ouvir o que aquele padre com vestes de saco e descalço tinha a dizer. Ao final da manhã do segundo dia, foi feita uma adoração ao Santíssimo Sacramento e, como é costume dos padres da RCC, o “passeio com o Santíssimo”. O padre, conduzindo o ostensório com Jesus sustentado em suas mãos, punha a Santa Hóstia diante dos olhos de cada um. Ele se aproximava, parava alguns instantes e seguia para a próxima pessoa. Chegada a minha vez, tudo parecia ocorrer como o “previsto”: ele se aproximou, colocou Jesus diante de mim, eu O contemplei e O adorei e o padre se retirou. E quando, depois de dar alguns passos, parecia que de fato seguiria em frente, o padre Roberto pára e olha para trás. E surpreendendo-me olha para mim e fita-me. Em seguida, ele vem em minha direção, se aproxima novamente de mim e me diz ao ouvido: “O Senhor Jesus te chama a vida consagrada, a vida sacerdotal. Reze por isso”. Naquele instante eu fiquei em choque. Sustentava meu corpo para que não tombasse. Lágrimas escorriam sobre todo corpo. O meu coração disparava num grande ânimo de alegria e surpresa. Se havia alguma dúvida, Deus fez questão de jogar todas pelo chão naquele santo dia.
A partir daí, minha página vocacional foi reaberta pelo próprio Deus. Alimentei e madureci o chamado até o ponto de poder concretizá-lo parcialmente ingressando no Seminário de São Pedro em 2009. Hoje, e a cada dia tenho mais certeza de que aqui é lugar que Deus escolheu para mim. Minha vocação é a minha vida, e não viveria sem ela. A cada passo dado, a cada dificuldade superada, a cada lágrima derramada, Deus clama fortemente em meu peito, como sempre clamou em seus sinais: “Pasce ovis meas!” (Jo 21, 16) E é esse grito que eu quero que se ecoe em tudo o que eu pensar e fizer, para que o reino de Deus se realize na face da terra.
Que a Santíssima Virgem Maria, minha mãe e mestra, sustente a todos que investem nesta magnífica empreitada de ser padre e os conduza ao sacerdócio do seu amado filho, do nosso amado Mestre. Amém!!!

Um comentário:

  1. Bonita sua história Vocacional, Seminarista Fabiano. Que a Virgem Maria te ajude sempre nessa "empreitada" e que confirme cada vez mais em seu coração essa certeza.

    A sua vocação tabém desperta em nós esse "grito que escoa em tudo o que pensamos e fazemos"

    Maxwell Gomes
    Vocacionado ao Seminário de São Pedro

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