sexta-feira, 6 de maio de 2011

DIRETOR DO CURSO DE TEOLOGIA O PROF: PE. PAULO ESCREVE PARA O BLOG JOÃO PAULO II


NÃO APAGUEIS O ESPÍRITO (1Ts 5,19)

Pe. Paulo Henrique da Silva
Mestre em Teologia Dogmática
Paróquia de Santa Clara – Natal (RN)

Vivenciamos o Tempo Pascal. Serão 50 dias até a Festa de Pentecostes. Na verdade, é como se fosse um só dia. O Tempo Pascal nos coloca diante da ação de Deus que mostra uma unidade: o Filho de Deus se encarna, assume um corpo humano, vive uma história humana, morre na cruz, ressuscita e volta para junto do Pai, recebendo aquela glória que tinha, junto do Pai, antes que o mundo existisse (cf. Jo 17,5). Trata-se da ação de Deus que a vê como projeto unitário. De fato, Deus nos chama para uma visão total, unitária e completa de seu plano, do seu projeto, de sua vontade. Quem possibilita a nós essa unidade da ação de Deus é o Espírito Santo. Ele nos foi dado pelo Pai por meio de Cristo para tornar-nos completos, isto é, faz-nos capazes de ver o todo do plano de Deus. Quando particularizamos, isto é, “quebramos” o plano divino em partes, caímos na tentação de “apagar” o Espírito. E mais: podemos fazer isso domesticando o Espírito, aprisionando-o e costurando-o com nossas teorias, fazendo uma indevida apropriação para Ele dos nossos conflitos internos, das nossas emoções, de nosso sentimentalismo. Com isso, esquecemos as verdades do Espírito e dificultamos nossa vida de fé. Mas, quem é o Espírito Santo? A Palavra de Deus nos diz que Ele pairava sobre as águas, quando Deus criou o céu e a terra (cf. Gn 1,2); Ele falou pelos profetas; esteve presente na vida daqueles que estavam em relação com a vinda de Cristo: Isabel (Lc 1,42), Maria (Lc 1,35), Simeão (Lc 2,26). Toda a vida de Cristo aconteceu na ação do Espírito Santo: sua concepção é uma intervenção do Espírito (Lc 1,35); Ele se manifesta em Jesus (Mt 3,16; 4,1; Mc 1,10.12; Lc 3,22; 4,1; Jo 1,32-33: cena do Batismo, testemunho de João Batista e a tentação no deserto; Lc 10,21: hino de júbilo de Jesus pela revelação de Deus aos pequenos), Jesus age por meio do Espírito (Mt 12,28: a cena da expulsão do espírito impuro do cego-mudo), continua a sua missão (Jo 14,16-17; 16,7); assistirá os discípulos (Mt 10, 19-20; Mc 13,11; Lc 12,11-12; Jo 15,26-27) para introduzi-los em toda a verdade (Jo 14,26; 16,13). Toda a verdade diz respeito ao “querigma”, ao anúncio-proclamação do plano de Deus, de sua vontade: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16); “Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os que eram sujeitos à Lei e todos recebêssemos a dignidade de filhos. E a prova de que sois filhos é que Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: ‘Abbá, Pai’” (Gl 4,4-6). Esse é o querigma que nós recebemos e que devemos transmitir (cf. 1Cor 11,23; 15,3: é a atitude do Apóstolo que, referindo-se à Eucaristia, ao caráter expiatório da morte de Cristo e à sua ressurreição, apresenta o dinamismo da ação do Espírito Santo, que é o mesmo dinamismo da Tradição (Traddere: entrega, transmissão). A Tradição, que não é nem emoções nem sentimentalismo, mas a vida mesma da Igreja, é a transmissão da fé dos apóstolos, fé no acontecimento da Revelação, que significa a vinda de Deus ao homem e à mulher, verdadeira automanifestação e autocomunicação de Deus por meio do Filho e do Espírito Santo. Quando reconhecemos que de fato isso aconteceu e buscamos, com o ato de nossa liberdade, aceitamos essa autocomunicação como a verdadeira e autêntica realização da condição humana, nós deixamos que o Espírito Santo habite em nós e nos tornamos, de fato, testemunhas do Filho, anunciadores da vontade de Deus, vontade de autodoação de Deus ao homem e à mulher. Apagar o Espírito significa deturpar esse querigma e transformá-lo ou reduzi-lo a uma experiência puramente subjetiva, onde a ênfase é dada no narcisismo descontrolado e necessitado de publicidade que se encontra presente em muitos que não são o “amigo do Esposo” (cf. Jo 3,29). É preciso que seja afugentado de nós esse narcisismo que impede o Espírito de realizar em nós a obra do Filho. O amigo do Esposo diz: “É necessário que Ele (o Cristo) cresça, e eu diminua” (Jo 3,30). O que fazer para que não apaguemos o Espírito, conforme São Paulo nos aconselha (cf. 1Ts 5,19)? Só existe uma solução: seguir as orientações que estão elaboradas no Documento de Aparecida, que por sua vez são inspiradas no Concilio Vaticano II, grande dom do Espírito Santo... grande patrimônio, cheio de riquezas que por muito tempo ainda as gerações hão de haurir (Bento XVI, Homilia na beatificação de João Paulo II, 1 de maio de 2011), no ensinamento do Beato João Paulo II, no ensinamento, profundamente teológico e humano de Bento XVI: é necessário que sejamos todos discípulos e missionários. Assim se expressa o Documento de Aparecida: “Esta V Conferência se propõe à grande tarefa de conservar e alimentar a fé do povo de Deus e recordar também aos fiéis deste continente que, em virtude de seu batismo, são chamados a serem discípulos e missionários de Jesus Cristo” (DAp 10). Como se dará isso? Através da conversão pastoral, condição para sairmos da mediocridade que invade como lama muitos membros da Igreja. Essa conversão pastoral nos levará ao reconhecimento do plano de Deus que nos foi revelado por Jesus Cristo e atualizado pelo Espírito Santo na vida da Igreja, através da sua missão de anunciar aos homens e às mulheres a Boa nova da salvação: Deus é da parte do homem, como disse o Papa Bento XVI no seu discurso inaugural da V Conferência do Celam: “só quem reconhece a Deus, conhece a realidade e pode responder a ela de modo adequado e realmente humano”.

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