sexta-feira, 6 de maio de 2011


“A LETRA MATA, MAS O ESPÍRITO VIVIFICA”
(2Cor 3, 6)

Idelbrando Medeiros Basílio
Seminarista III Teologia


Na primeira parte (postagens antigas que publiquei neste blog) da reflexão sobre a leitura das Sagradas Escrituras, segundo a fé da Igreja, ficou claro o caráter eclesial e instrutivo dos textos sagrados, em seu aspecto literal: “Toda a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça” (2Tm 3, 16). Este fato pressupõe, logicamente, um Magistério, um corpo autorizado a instruir em nome da Verdade transmitida nos textos sagrados. Diante disso, faz-se necessário destacar outro aspecto importante que vem a ser o complemento natural e necessário, que vai além do aspecto literário, abordado anteriormente: o sentido espiritual da Palavra.
A partir do Magistério da Igreja se pode demonstrar que, “A Palavra de Deus nunca se apresenta na simples literalidade do texto” (Verbum Domini/nº38). Este aspecto é muito importante porque indica a necessidade de se transcender o sentido literal da Palavra – muito explorado no período Patrístico e Medieval – chegando a seu sentido espiritual; mostra que é preciso passar da leitura crente da Palavra à vivência da mesma, ou seja, o aspecto vital; é o método de leitura orante da Bíblia denominado Lectio divina, que envolve o binômio: mente e coração.
Este aspecto não é de um todo o menos importante. O Magistério da Igreja que está a serviço da Palavra, nos assegura a importância, para o crente, de debruçar-se sobre a leitura orante da Bíblia, não uma leitura intimista e fundamentalista, mas antes, uma leitura que faça, - pela meditação, oração e contemplação - o indivíduo compreender Seu verdadeiro sentido e atingir o duplo sentido destes textos, já indicado por Santo Agostinho: “quando lês, é Deus que te fala, quando rezas, és tu que falaz a Deus”, ou seja, rezar com o coração. Na verdade, este é o risco que correm as pessoas hoje: ler a Palavra de Deus só com a cabeça (mente), sem o coração (Espírito) e vice-versa.
A Palavra de Deus viva e dinâmica, também sofre os processos contingentes da sociedade. Isto é notório quando constatamos que a Palavra ressoa, nos dias de hoje, por meio de vários processos de comunicação: literal, virtual, áudio-visual, etc. Mas este fato não muda sua essência, Ela será sempre Palavra de Deus que nos conduz ao encontro pessoal com Cristo que vem, ainda hoje, gratuitamente, ao nosso encontro num lugar privilegiado: “a liturgia” (VD/nº86), local de encontro e atualização prática da Palavra.
Encerro esta reflexão no mesmo desejo de que todos os “homens de boa vontade” procurem uma leitura, árdua e fervorosa, da Palavra na comunhão eclesial, consciente de que a história da Palavra passa pela história humana, para que, segundo Santo Ambrósio: “quando tomarmos nas mãos, com fé, as Sagradas Escrituras e as lermos com a Igreja” voltemos “a passear com Deus no paraíso”. Tal reflexão nos mostra a urgência e o cuidado que devemos ter para não cairmos no grave erro do fundamentalismo em que, “a letra mata”, e entregar-se à leitura orante – na fé da Igreja - dos textos Sagrados, porque “o Espírito vivifica”.

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