quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

QUARTA-FEIRA DE CINZAS


Por: Padre Cristovam Lubel
O que a Igreja celebra na Quarta-feira de cinzas?
Celebra o inicio da Quaresma, tempo do ano litúrgico que convida os católicos e demais pessoas à conversão de vida e os prepara para o Tríduo Pascal, isto é, para a celebração da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus.

O que são as cinzas?
São resíduos em forma de pó, provenientes da queima de ramos bentos no Domingo de Ramos do ano anterior.

O que as cinzas simbolizam?
Simbolizam a transitoriedade da vida neste mundo, ou seja, que somos peregrinos a caminho de um novo Céu e uma nova terra. Estamos de passagem por este mundo; ele não é a nossa casa definitiva. A “debilidade” das cinzas faz lembrar a fragilidade humana.

O que o Antigo Testamento diz sobre as cinzas?
·         Elas simbolizam o pecado, a fraqueza humana consciente diante da santidade de Deus que deve resplandecer em seu povo (Cf. Is 44,20; Sb 15,10; Ez 28,18; Ml 3,21; Gn 18,27; Sl 17,32).
·         Elas simbolizam o arrependimento de quem pecou (Cf. Jt 4,11-15; 9,1; Ez 27,30; Jó 42,6; Jn 3,6).
·         Elas manifestam a tristeza (Cf. 2Sm 13,19) e a inquietude de quem se sente ameaçado de morte (Cf. Est 4,1-4; 1Me 3,47; 4,39).
·         Elas denunciam a miséria (Cf. Jó 30,19) e o luto (Cf. Jr 6,26)
·         Elas alimentam o infeliz (Cf. Sl 102,10; Lm 3,16).
·         Elas revelam a força do Messias, que as transformará em coroa de glória (Cf. 61,3).

As cinzas são citadas no Novo Testamento?
Sim, três vezes.
·         Jesus censura duas cidades – Corazim e Betsaida – Por não terem acolhido o evangelho (Cf. Mt 11,21; Lc 10,13).
·         O autor da carta aos Hebreus recorda de um antigo sacrifício feito pelos hebreus (Cf. Hb 9,13).
·         O apóstolo Pedro lembra da sorte das cidades de Sodoma e Gomorra (Cf. 2Pd 2,6).

Como é feita a imposição das cinzas?
É feita com a colocação de um pouco de cinza sobre a cabeça, ou sobre a fronte (em forma de cruz), de quem se apresenta para recebê-la. Enquanto a recebe, o ministro que administra convida para a conversão, repetindo as palavras de Jesus: “convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15).

Quando a Igreja começou a impor as cinzas?
Oficialmente em torno do ano mil, embora já houvesse o costume em algumas dioceses há mais tempo. Estudiosos de liturgia situam a introdução da Quarta-feira de cinzas pelo Papa Gregório I, no Sínodo de Benevento, em 1091.

Quem impõe as cinzas?
Os ministros ordenados – diácono, presbítero e bispo – e, sempre que houver necessidade, ministros leigos designados pelo diácono ou pelo sacerdote (presbítero ou bispo). Isso acontece quando o número de pessoas que se apresentam para receber as cinzas é muito grande, o que faria com que o tempo de imposição (das cinzas) fosse excessivo. A resolução como esta, em favor dos fieis, a Igreja dá a designação de “razão pastoral”.

Quem pode receber as cinzas?
Todas as pessoas que estejam dispostas a buscar a conversão, isto é, a mudar a vida para melhor.

As cinzas fazem milagres?
Não é esta a intenção da imposição das cinzas, mas para quem tem o coração aberto a Deus todas as ocasiões – especialmente a celebração eucarística – podem trazer graças e bênçãos.

Quais são as disposições necessárias para receber as cinzas?
Entre outras, as seguintes: 1. Disposição para iniciar uma mudança de vida, abandonando o mal e aderindo ao bem; 2. Disposição para reconhecer as próprias faltas, arrependendo-se delas; 3. Disposição para entrar num processo de conversão, fazendo do dia a dia tempo de uma nova vida; 4. Disposição para comprometer-se com Jesus, tendo-o como Caminho, Verdade e Vida; 5. Disposição para praticar o “mandamento dos mandamentos”: Amar a Deus e ao próximo; 6. Disposição para perdoar e para acolher o perdão; 7. Disposição para levantar-se após as quedas, pedindo perdão pelos pecados cometidos e perseverando na prática do Evangelho; 8. Disposição para trocar a injustiça pela justiça, a mentira pela verdade, o ódio pelo amor.

Em outras palavras, é ter disposição para tornar-se uma nova pessoa?
Sim. Para compreender isso, é interessante recordar o que disse o apóstolo Paulo aos efésios: “Não persistais em viver como os pagãos, que andam a mercê de suas ideias frívolas. Têm o entendimento obscurecido. Sua ignorância e o endurecimento de seu coração mantem-nos afastados da vida de Deus. Indolentes, entregam-se à dissolução, à prática apaixonada de toda espécie de impureza. Vós, porém, não foi para isto que vos tornastes discípulos de Cristo, se é que o ouviste e dele aprendeste, como convém à verdade em Jesus. Renunciai à vida passada, despojai-vos do homem velho, corrompido pelas concupiscências (=cobiça) enganadoras. Renovai sem cessar o sentimento da vossa alma, e revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade” (Ef 4,17-23).

As cinzas nos transformam em novas pessoas?
Não. As cinzas são um sinal de que estamos dispostos a mudar, contando com a graça de Deus. Ao recebê-las, estamos manifestando a nossa disposição em converter-nos. Somente receber as cinzas não resolve nada; a graça de Deus age em nós desde que estejamos sinceramente dispostos a viver uma vida nova.

Que ligação existe entre a Quarta-feira de cinzas e a Quaresma?
Além de abrir o tempo da Quaresma, a Quarta-feira de cinzas é um convite a quem as recebe para que participe de todas as celebrações do período quaresmal, bem como do Tríduo Pascal. Assim, somos convidados e auxiliados a trocar o coração de pedra por um coração de carne (Cf. Ez 11,17-21). Quem participa da Quarta-feira de cinzas mas não da Quaresma começa bem, mas fica apenas no propósito, o que é pouco e insuficiente (Cf. Lc 14,25-35).

A Quarta-feira de cinzas é dia de jejum e abstinência?
Sim. Eis o que diz a respeito o Diretório de Liturgia: “Estão obrigados à lei da abstinência (de carne) aqueles que tiverem completado catorze anos de idade; estão obrigados à lei de jejum todos os maiores de idade (quem completou 18 anos) até os sessenta começados. Todavia, os pastores de almas e pais cuidem para que sejam formados para o genuíno sentido da penitência também os que não estão obrigados à lei do jejum e da abstinência em razão da pouca idade. A quarta-feira de cinzas e a sexta-feira santa, memória da Paixão e Morte de Cristo, são dias de jejum e abstinência. A abstinência pode ser substituída pelos próprios fieis por outra prática de penitência, caridade ou piedade, particularmente pela participação nesses dias na Sagrada Liturgia” (2011, p.20).

Posso participar da celebração da Quarta-feira de cinzas e levar para as pessoas enfermas e/ou idosas de minha casa?
Sim, a não ser que haja alguma recomendação em contrário por parte de sua paróquia. Na dúvida, converse e respeito com os ministros que distribuirão as cinzas em sua comunidade.

O que mais se celebra na Quarta-feira de cinzas?
A abertura da Campanha da Fraternidade. A conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) a promove todos os anos, durante a Quaresma, “cuja finalidade principal é vivenciar e assumir a dimensão comunitária e social da Quaresma. A Campanha da Fraternidade ilumina de modo particular os gestos fundamentais desse tempo litúrgico: a oração, o jejum e a esmola” (Diretório da Liturgia, CNBB, 2011, p.70). Ao participar das celebrações e atividades pastorais de sua comunidade, você conhecerá o tema e o lema da Campanha da Fraternidade deste ano, e será convidado a refletir, com todas as dioceses do Brasil, sobre como transformar a sociedade a partir de si mesmo, da convivência com os outros e com a natureza e do relacionamento com Deus. A Campanha da Fraternidade é celebrada durante a Quaresma, mas a extrapola, já que seu raio de ação tem como alcance toda a vida.

Para concluir
“Essencialmente (a imposição das cinzas) é um gesto de humildade, que significa: reconheço-me por aquilo que sou, uma criatura frágil, feita de terra e destinada à terra, mas também feita à imagem de Deus e destinada a Ele. Pó, sim, mas amado, plasmado pelo seu amor, animado pelo seu sopro vital, capaz de reconhecer a sua voz e de lhe desobedecer, cedendo à tentação do orgulho e da autossuficiência. Eis o pecado, doença mortal que muito depressa começou a poluir a terra abençoada que é o ser humano. Criado à imagem do Santo e do Justo, o homem perdeu a inocência e agora só pode voltar a ser justo graças à justiça de Deus, a justiça do amor. Abramos a terra à luz do céu, à presença de Deus no meio de nós” (Bento XVI, 17/02/2010)


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