sábado, 6 de agosto de 2011


PADRE. ENTRE CRISE E RENOVAÇÃO

Por: Pe. Lenilson Morais

O padre é uma figura mais do que nunca conhecida. Sua obra principal é a de promover o encontro pessoal dos seus irmãos com Jesus através do anúncio do evangelho, da administração dos sacramentos e do próprio testemunho de vida de comunhão com Deus e com os irmãos. Quando isto não acontece ou passa a ter um valor apenas complementar na sua vida, podemos afirmar que a figura e a própria pessoa do ministro estão em crise. E é isso que tem-se revelado nos últimos tempos. Esta crise pode apresentar-se mais perceptível e escandalosa quando explodem casos de deploráveis atos na área da sexualidade ou da administração dos bens dos fiéis, mas é igualmente real quando o “homem de Deus” já não tem tanto tempo para o seu povo, o “povo de Deus”, devido aos compromissos que a própria carreira lhe impõe. Há uma crise no padre porque no fundo há uma crise de identidade da pessoa humana: os papeis sociais cada dia mais são questionados e os valores passam por mudanças contínuas que geram instabilidade e insegurança. Se não existem verdades universais, o que me garante que o que sou e faço é de fato justo e bom? Só pela fé na Revelação ou, ainda, pela compreensão da lei natural é que podemos aceitar verdades perenes e irrefutáveis que nos ligam intimamente a uma realidade que supera o imediatismo pós-moderno. Se o padre ou qualquer outro crente perde de vista esta referencia suprema, sua vida e missão tornar-se-ão sem sentido, e quando isto acontece atingiu-se o ponto abissal da própria perplexidade.

Diante da crise, o homem de fé espera e, mesmo que não seja um contemplativo, busca no próprio interior a chave, como muito bem escreveu Thomas Merton: “nem todos os homens são chamados à vida eremítica, mas todos necessitam de certa dose de silêncio e solidão, para permitir-lhes ouvir, ao menos ocasionalmente, a voz interior profunda do seu verdadeiro eu”. Só através do encontro silencioso consigo mesmo e com Deus é que podemos vislumbrar a superação da crise de identidade do sacerdote. Tal superação não significa, porém a ausência absoluta de questionamentos, dúvidas e imperfeições, mas sim a coragem de centrar-se naquilo que se é, inclusive com as próprias contradições, pois “conviver com o paradoxo pode não ser fácil ou confortável: não é indicado para preguiçosos, condescendentes ou fanáticos” (Esther de Waal, Vivendo com a contradição. Ed Mosteiro da Santa Cruz, Juiz de Fora, p.23). O padre é um homem comum revestido desde o interior com a unção de Deus para o serviço de todo povo sacerdotal. Esta unção para o ministério é que deve dá o norte de sua existência; se ele age na sua prolongação será um homem feliz, mas se ao contrário troca, suplanta, menospreza, minimiza ou trai voluntária e sistematicamente o “dom de Deus” passará da crise natural a uma estado permanente de frustração. Neste caso, o abandono do ministério seria a atitude mais sensata e honesta, segundo a análise do psicanalista Vittorino Andreoli no livro “Padres: viagem entre os homens do sagrado”. No Concílio Vaticano II a Igreja apontou um meio muito seguro para a vida e a missão do presbítero: as fraternidades sacerdotais, onde se fortalece na oração e na própria missão (Prespiterorum Ordinis, nn. 7 e 8). O modelo do padre isolado fracassou!

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