quarta-feira, 3 de agosto de 2011

COMPAIXÃO


Dom José Alberto Moura, CSS
Arcebispo de Montes Claros, MG

Não existe alguém mais compassivo do que Deus em relação ao ser humano. Muitos, até cientistas, procuram saber se é possível a existência divina. A matéria, por ela mesma, não é suficiente para esclarecer sua causalidade em relação ao universo. O horizonte intelectual humano é muito frágil e limitado para conhecer a realidade da essência da divindade transcendente à matéria. Mesmo com a reflexão sobre a causalidade, buscando-se, pela lógica intelectual, o ser não limitado que possibilitou a existência dos seres contingentes, há a obnubilação do conhecimento humano sobre o Ser Superior a tudo e de dimensão incomensurável. Por isso, o Ser Supremo quis dar-se a conhecer, inicialmente de modo indireto, através do cosmo, e, de há certo tempo, através daquele que ele enviou, através de um ser humano que o gerou. O desafio da fé, mesmo para os que não crêem, apresenta-o na fragilidade da natureza humana sujeita à morte física, mas ainda superando esta com a ressurreição. Mostra aí sua natureza também divina. Aceitá-la não é só buscar os dados históricos narrados também por Flávio José, ou mesmo pelos fatos apresentados pela bíblia. A ciência humana é demais pequena para, por si só, querer explicar ou aceitar a grandiosidade do fato ou da realidade do Criador.

Jesus, o Filho de Deus a nós enviado, apresenta-nos de modo compreensível a relação do humano com o divino. Diferentemente de outros religiosos, ele não só fala de Deus. Mas prova ser o mesmo Deus que se torna humano. Seus milagres dão essa conotação. A prova cabal é sua ressurreição. A ciência não é capaz de realizar a ressurreição para a vida imorredoura. Na postura messiânica e humana de Jesus ele mostra profunda compaixão para com o ser humano: “Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por ela e curou os que estavam doentes” (Mateus 14, 13). Sua atitude não só o fez constatar o sofrimento humano, mas fez ação prática de tirá-lo dessa situação. Mostrou isso inúmeras vezes. Mas ele não queria só tirar o sofrimento físico, próprio de seres limitados como somos nós. Mostrou-nos, na prática, sua compaixão, assumindo nossos próprios limites de sofrimento, ingratidão, perseguição, condenação injusta e morte por crucifixão. No entanto, o maior milagre não é o de erradicar esses limites para a humanidade, e sim o que causa o maior infortúnio, o mal moral e espiritual. Ele quer nossa vida digna já na terra. Poderíamos ter muito menos sofrimento aqui, se vivêssemos na grandeza ética, moral e espiritual. Seguindo-o, alcançaremos o patamar da convivênia com o necessário para todos caminharem com dignidade. Falta compaixão por parte de muitos que são gananciosos, imorais, injustos, desonestos, sumamente ambiciosos, invejosos, corruptos, malversadores do que é bem comum...

Jesus veio nos mostrar que é possível o exercício das atividades humanas com a promoção da justiça, da corresponsabilidade social, da solidariedade, do respeito à vida e à dignidade humana. A fé nele, vivida na prática, é uma força incrível que faz a pessoa realizar o ideal de servir e amar, em todas as profissões, vocações e situações humanas. A compaixão nos leva a ser sensíveis e atuantes para ajudar o semelhante a superar seus problemas e limites.

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