quinta-feira, 14 de julho de 2011

O Retiro, em si, é um momento de encontro com Deus

BRISA SUAVE

 

Dom Genival Saraiva

Bispo de Palmares – PE

 

É muito comum, a essa altura do calendário pastoral da Igreja, os fiéis tomarem conhecimento da realização do Retiro do sacerdote de sua Paróquia e do clero de sua Diocese. Além da informação, pedem-lhes orações para que haja um proveito espiritual do Retiro, tanto para o próprio sacerdote/diácono quanto para a comunidade cristã. Trata-se de prática anual que tem um caráter obrigatório e, de sua parte, o Bispo diocesano e o Superior de uma Ordem ou Congregação Religiosa não podem se descuidar dessa responsabilidade. O Retiro, como diz a própria palavra, é um tempo de retirada do lugar, dos afazeres pastorais e das atividades administrativas, a fim de permitir ao diácono, sacerdote, bispo, religioso/a reencontrar-se com Deus, consigo e com seu ministério, mediante o silêncio da escuta e da contemplação. Normalmente, o Retiro se realiza num lugar apropriado que favoreça o recolhimento e o clima de oração e sempre é orientado por um pregador que imprime uma linha de reflexão espiritual que possa ajudar os participantes a se encontrarem com o seu ser e o seu agir de ministros ordenados ou de pessoas consagradas.
O Retiro, em si, é um momento de encontro com Deus; alguém poderia questionar o porquê do Retiro, argumentando que tudo na vida de um ministro, que recebeu o Sacramento da Ordem, é encontro com Deus; na verdade, toda ação ministerial, no aspecto litúrgico, administrativo e formativo, deve ser e ensejar um encontro com Deus. Todavia, há sempre um perigo de esvaziamento do sentido da vida e do ministério, se ministros ordenados e pessoas consagradas não se impõem esse tempo de aprofundamento, mediante os exercícios espirituais. Como se sabe, na miudeza do dia a dia, a agenda dos membros do clero, via de regra, é muito recheada de compromissos pastorais; por isso, a solicitude da Igreja não os deixa privados do tempo reservado para o Retiro anual. Nessa prática, há uma fundamentada expectativa de que esse encontro de oração, com o olhar de Deus, de sua Diocese e de sua família religiosa, segundo o seu carisma, contribua para um reavivamento do “sim" da vocação e do ardor da missão de cada participante.
A Sagrada Escritura e o calendário santoral da Igreja apresentam o exemplo de pessoas que se retiraram e se recolheram em oração, diante da vocação e do compromisso assumidos, perante Deus e o povo. No Antigo Testamento, Elias é um exemplo de quem encontrou Deus no silêncio. “O Senhor disse-lhe: 'Sai e permanece sobre o monte diante do Senhor’. Então o Senhor passou. Antes do Senhor, porém, veio um vento impetuoso e forte, que desfazia as montanhas e quebrava os rochedos, mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento veio um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto. Passado o terremoto, veio um fogo, mas o Senhor não estava no fogo. E depois do fogo ouviu-se o murmúrio de uma leve brisa. Ouvindo isto, Elias cobriu o rosto com o manto, saiu e pôs-se à entrada da gruta. Ouviu, então, uma voz que dizia: ‘Que fazes aqui, Elias?’ Ele respondeu: ‘Estou ardendo de zelo pelo Senhor’.” (1Re 19,11-14) No Novo Testamento, o melhor exemplo de oração e recolhimento é do próprio Jesus. Após a narração do milagre da multiplicação dos pães, escreve Mateus: “Logo em seguida, Jesus mandou que os discípulos entrassem no barco e fossem adiante dele para o outro lado do mar, enquanto ele despediria as multidões. Depois de despedi-las, subiu à montanha, a sós, para orar. Anoiteceu, e Jesus continuava lá, sozinho.” (Mt 14,22-23) Na história dos Santos, o Cura d’Ars, patrono dos sacerdotes, é um exemplo de vida de oração porque nela encontrou um dos sustentáculos de seu sacerdócio e de seu frutuoso trabalho pastoral.
O Senhor deixa-se encontrar, no murmúrio de uma brisa suave, por quem o procura no silêncio da oração.

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