Não julgar, mas perdoar
Enquanto Mateus qualifica Deus como perfeito ("Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito" - Mt 5,48), Lucas qualifica Deus como misericordioso ("Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso"). A perfeição tem um sentido muito amplo, e pode significar até autossuficiência e poder. A misericórdia, por sua vez, significa relação amorosa e humilde com o próximo. Em Jesus, Deus revela-se como sendo amor e misericórdia.
O "julgar" no texto de Lucas é empregado com o sentido de "condenar". O exercício do julgamento crítico dos fatos para melhor compreensão da realidade é saudável. A distorção está em condenar as pessoas, pois todas são filhas de Deus e objeto do seu amor misericordioso.
Na oração do Pai-Nosso, em Mateus, pedimos que sejamos perdoados, assim como nós perdoamos. Mantendo esta mesma estrutura, podemos orar: não nos condeneis, como nós não condenamos, dai-nos, como nós damos... A medida boa recebida em recompensa é uma forma de expressão para a compreensão de que a felicidade e a alegria que almejamos estão em viver em comunhão de vida com os irmãos. Perdoando, não condenando, partilhando, removendo as estruturas que geram pobres e ricos, é assim que descobrimos nossa vida em Deus, já neste mundo.
José Raimundo Oliva
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