terça-feira, 12 de junho de 2012

A LITURGIA NO TEMPO COMUM


Dom Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)

Concluído o tempo pascal, retomamos o “Tempo Comum” que dentro da liturgia dá continuidade às celebrações dos assim chamados “tempos fortes” (Advento, Natal, Quaresma e Páscoa). É a caminhada histórica da Igreja, que vai pelo mundo anunciando a Boa-Nova do Amor de Deus, manifestado em sua presença pelo Mistério da Encarnação e a nossa salvação celebrada no Mistério da Redenção. A tônica desses domingos está na vida de Jesus, seus milagres, seus encontros, suas atitudes junto ao povo de seu tempo, remetendo-nos ao seu dia a dia, tempo fundamental em que o Reino de Deus é construído, revelado e propagado.
O tempo comum é o espaço onde podemos conhecer mais de perto o jeito de ser de nosso Mestre. Conhecer implica tempo, relação, aprofundamento e uma vivência mais próxima. O tempo comum nos possibilita esta aproximação com o Senhor e nos ajuda a perceber todo o mistério da salvação. Celebrar a cada dia e, em especial aos Domingos, é a convivência, na liturgia, com a Palavra Viva, que é o próprio Jesus.
Observando o jeito de ser de Jesus, vamos descobrindo que toda a sua vida é salvífica e tende para o bem de toda a criação. Cada gesto do Mestre descortina, diante do ser humano, a possibilidade da salvação e da felicidade que só Deus mesmo poderia nos proporcionar.
O Diretório da Liturgia e da Organização da Igreja no Brasil, no ano do Senhor de 2012, faz referência ao tempo comum da seguinte maneira: "A tônica dos domingos do tempo comum é dada pela leitura contínua do Evangelho. Cada texto do Evangelho proclamado nos coloca no seguimento de Jesus Cristo, desde o chamamento dos discípulos até os ensinamentos a respeito do fim dos tempos. Neste tempo, também as festas do Senhor e a comemoração das testemunhas do mistério pascal (Santa Maria, Apóstolos e Evangelistas e demais Santos e Santas)”.
Uma referência bastante significativa que nos possibilita uma compreensão ainda maior da riqueza do tempo comum, quando a celebração do mistério pascal de Cristo, núcleo fundamental de nossa fé, é vivida e comemorada também na vida de cada fiel e de cada comunidade.
Por meio do Ano Litúrgico e, dentro dele, o tempo comum, cada pessoa é chamada a configurar a sua vida à vida de Cristo e Dele aprender a ter os mesmo sentimentos que Ele teve. Mais, portanto, que uma simples repetição ou lembrança de fatos acontecidos, a celebração da fé deve atualizar e alimentar a vida dos batizados, tornando-se assim um caminho a ser percorrido e experimentado.
O tempo comum é o tempo de tornar comum o mistério de Cristo em nossas vidas. Ajuda-nos a perceber que Cristo é a realidade suprema e por excelência que jamais pode faltar em nossa vida. Ele é a fonte que jorra e faz brotar a vida para toda a humanidade. "Sem mim nada podeis fazer". (Cf. Jo15, 5)
Por meio dos hinos, dos salmos, das leituras bíblicas, das preces de súplica e louvor, da oferta generosa do povo de Deus que oferece suas primícias ao Senhor, o fruto de seus trabalhos e esforços, celebramos o mistério de Cristo. Uma salutar expressão de nosso caminhar pascal, percorrendo desde o nascimento de Cristo até sua morte e Ressurreição, bem como a sua Vinda Gloriosa e Definitiva.
É, pois, na celebração da Santa Missa, em todos os tempos de nosso caminhar litúrgico, que celebramos a ação de Cristo e do povo de Deus hierarquicamente organizado e ordenado à salvação, conforme suas condições próprias, oferecendo-lhes mais intensamente os ensinamentos da vida de Cristo e fazendo da celebração o centro de toda vida cristã, tanto para a Igreja universal quanto para a Igreja local e para a vida de todos os seus fiéis.
Que o tempo comum, que há pouco iniciamos, seja, portanto, a oportunidade de aprofundarmos o mistério de Cristo e de sua vida, de configurar nossa vida à de Cristo mesmo e de nos tornarmos discípulos anunciadores, missionários para que, olhando para o Cristo o mundo creia e possamos promover juntos a civilização do amor, baseada numa cultura de solidariedade e partilha onde todos, com o Cristo e o Pai, sejamos um.

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