domingo, 12 de junho de 2011

PENTECOSTES


“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu, para anunciar a boa-nova aos pobres...”
 Por Pe. Agostinho

Conta-nos São Lucas no livro dos Atos dos Apóstolos, num esplêndido decorado de vento impetuoso e línguas de fogo descendo sobre os discípulos reunidos em oração com algumas mulheres e Maria, a Mãe, a vinda do Espírito santo. O efeito imediato disto é o anúncio em Jerusalém, como início da missão, de Jesus ressuscitado, o mesmo Jesus que fora crucificado e em cujo nome o perdão de Deus se torna acontecimento salvador.
As mesmas constantes nos são trazidas no Evangelho de João, no primeiro dia da semana da ressurreição do Senhor, quando Ele aparece aos discípulos e após a costumeira saudação da paz, diz: “como o Pai me enviou, assim eu envio vocês” e após soprar sobre eles disse: “recebei o Espírito Santo” e nessa missão e nesse mesmo Espírito do Ressuscitado acontece o perdão dos pecados.
Muda o decorado, mas o anúncio é o mesmo: o Espírito Santo é dado para a missão que se torna perdão e reconciliação.
Mas o quê ou quem é esse Espírito Santo. Podemos responder com Concílios antigos e com os santos Padres de mentalidade helenista que é a terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Certamente! Isto é o fruto da reflexão sobre a trindade e a unicidade de Deus e sua expressão em conceitos gregos. Mas voltemos às expressões mais originais.
No momento da criação, no livro do Genesis o Espírito (“ruah”) de Deus pairava sobre as águas. “Ruah”, em bom português, é sopro, hálito, vento, etc. Quando Deus criou o homem, no segundo relato criacional do Genesis, formou-o de barro e “soprou” sobre ele, dando-lhe a vida. É o Espírito de Deus presente em toda a vida. É o mesmo Espírito que se manifesta nos profetas de Israel. E assim vai, Bíblia adentro...
Quando chegamos aos Evangelhos, nos deparamos em que os quatro começam o relato histórico de Jesus no seu encontro com João, o Batista, por todos, reconhecido como grande profeta. Jesus é batizado por ele. No momento desce o Espírito e se ouve a voz do Pai. É o marco primeiro da apresentação evangélica de Jesus. O Senhor é, para começar o Homem em quem a plenitude do Espírito se torna acontecimento e, por se fosse pouco, esta plenitude é testemunhada pela própria voz de Deus, apresentando-se a si mesmo o Pai de Jesus, “Filho amado”.
É pelo Espírito que Jesus é guiado constantemente nos Evangelhos. A começar pelas tentações no deserto. Quando vai a Nazaré, na sinagoga, lê o texto messiânico do profeta deutero-Isaias que começa dizendo: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu, para anunciar a boa-nova aos pobres...” Trata-se de um longo poema em que Deus vai redimir os pobres e trazer o tempo da abundância e da salvação.
O anúncio evangélico inteiro sobre as palavras e comportamento de Jesus está em função dos pobres e, também por mais escandaloso que possa parecer a contemporâneos e hodiernos “bem-pensantes”, ao lado de prostitutas, publicanos e pecadores públicos. Se a isto acrescentamos que Jesus foi julgado, condenado e crucificado que nem bandido ou revoltoso, então teremos claro o que significa para os discípulos a recepção do “vento impetuoso” com as línguas de fogo em São Lucas, ou o “sopro” da vida nova ou nova criação no Espírito em São João.
Nas últimas décadas, e a partir do concílio Vaticano II, falou-se não pouco, e com razão, sobre a renovação da Igreja pela ação do Espírito Santo. Não são poucas as novas comunidades que se auto-definem como “renovadas” e, aqui e acolá, poderia parecer que tem mais “espírito” do que outros. Porém, com relação a estas novas comunidades, não quero esquecer muitas delas que tem bela vocação de serviço e doação aos outros, que é, no fim das contas, o mais importante. Também não nos faltam hierarcas ou superiores religiosos que se acham com mais posse do “espírito” do que outros... Bem, tudo isso que está por aí, inclusive com dons de línguas “de anjos” –dizem, e que tanta dor de cabeça deu ao apóstolo Paulo, penso que não deve de impressionar a ninguém. Pois, ninguém consegue “engaiolar” o Espírito e disso a melhor história da Igreja é testemunha.
Para não nos enganarmos, nem correr o risco de enganar, diria que, quanto mais nos aproximarmos de Jesus e do Evangelho, quanto mais e melhor seja nossa vivência da Páscoa de Jesus, sua morte-ressurreição (nosso compromisso batismal), quanto maior seja nossa acolhida de pobres e pecadores..., maior será a nossa abertura para a recepção do Espírito, do sopro vital, da energia, vitalidade do próprio Deus.
Porque não há nenhuma manifestação do Espírito Santo que não tenha acontecido em Jesus em que habitou e habita (por dizer de algum modo) a plenitude do Espírito Santo que, em antiga linguajem “procede do Pai e do Filho”, ou “procede do Pai pelo Filho”. Não há Espírito Santo nem aquém nem além de Jesus.

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