4. À luz de tudo isto, decidi
proclamar um Ano da Fé. Este terá início a 11 de Outubro de 2012, no
cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II, e terminará na Solenidade
de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, a 24 de Novembro de 2013. Na
referida data de 11 de Outubro de 2012, completar-se-ão também vinte anos da
publicação do Catecismo da Igreja Católica, texto promulgado pelo meu
Predecessor, o Beato Papa João Paulo II, (Cf. João Paulo II, Const. ap. Fidei
depositum (11 de Outubro de 1992): AAS 86 (1994), 113-118) com o objetivo de
ilustrar a todos os fiéis a força e a beleza da fé. Esta obra, verdadeiro fruto
do Concílio Vaticano II, foi desejada pelo Sínodo Extraordinário dos Bispos de
1985 como instrumento ao serviço da catequese (Cf. Relação final do Sínodo
Extraordinário dos Bispos (7 de Dezembro de 1985), II, B, a, 4: L’Osservatore
Romano (ed. port. de 22/XII/1985), 650) e foi realizado com a colaboração de
todo o episcopado da Igreja Católica. E uma Assembleia Geral do Sínodo dos
Bispos foi convocada por mim, precisamente para o mês de Outubro de 2012, tendo
por tema A nova evangelização para a transmissão da fé cristã. Será uma ocasião
propícia para introduzir o complexo eclesial inteiro num tempo de particular
reflexão e redescoberta da fé. Não é a primeira vez que a Igreja é chamada a
celebrar um Ano da Fé.
O meu venerado Predecessor, o Servo de Deus Paulo VI, proclamou um semelhante, em 1967, para comemorar o martírio dos apóstolos Pedro e Paulo no décimo nono centenário do seu supremo testemunho. Idealizou-o como um momento solene, para que houvesse, em toda a Igreja, «uma autêntica e sincera profissão da mesma fé»; quis ainda que esta fosse confirmada de maneira «individual e colectiva, livre e consciente, interior e exterior, humilde e franca» (Paulo VI, Exort. ap. Petrum et Paulum Apostolos, no XIX centenário do martírio dos Apóstolos São Pedro e São Paulo (22 de Fevereiro de 1967): AAS 59 (1967), 196). Pensava que a Igreja poderia assim retomar «exacta consciência da sua fé para a reavivar, purificar, confirmar, confessar» (Ibid.: o.c., 198.).
As grandes convulsões, que se verificaram naquele Ano, tornaram ainda mais evidente a necessidade duma tal celebração. Esta terminou com a Profissão de Fé do Povo de Deus, (Paulo VI, Profissão Solene de Fé, Homilia durante a Concelebração por ocasião do XIX centenário do martírio dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, no encerramento do «Ano da Fé» (30 de Junho de 1968): AAS 60 (1968), 433-445) para atestar como os conteúdos essenciais, que há séculos constituem o património de todos os crentes, necessitam de ser confirmados, compreendidos e aprofundados de maneira sempre nova para se dar testemunho coerente deles em condições históricas diversas das do passado.
O meu venerado Predecessor, o Servo de Deus Paulo VI, proclamou um semelhante, em 1967, para comemorar o martírio dos apóstolos Pedro e Paulo no décimo nono centenário do seu supremo testemunho. Idealizou-o como um momento solene, para que houvesse, em toda a Igreja, «uma autêntica e sincera profissão da mesma fé»; quis ainda que esta fosse confirmada de maneira «individual e colectiva, livre e consciente, interior e exterior, humilde e franca» (Paulo VI, Exort. ap. Petrum et Paulum Apostolos, no XIX centenário do martírio dos Apóstolos São Pedro e São Paulo (22 de Fevereiro de 1967): AAS 59 (1967), 196). Pensava que a Igreja poderia assim retomar «exacta consciência da sua fé para a reavivar, purificar, confirmar, confessar» (Ibid.: o.c., 198.).
As grandes convulsões, que se verificaram naquele Ano, tornaram ainda mais evidente a necessidade duma tal celebração. Esta terminou com a Profissão de Fé do Povo de Deus, (Paulo VI, Profissão Solene de Fé, Homilia durante a Concelebração por ocasião do XIX centenário do martírio dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, no encerramento do «Ano da Fé» (30 de Junho de 1968): AAS 60 (1968), 433-445) para atestar como os conteúdos essenciais, que há séculos constituem o património de todos os crentes, necessitam de ser confirmados, compreendidos e aprofundados de maneira sempre nova para se dar testemunho coerente deles em condições históricas diversas das do passado.
5. Sob alguns aspectos, o meu
venerado Predecessor viu este Ano como uma «consequência e exigência
pós-conciliar» (Paulo VI, Audiência Geral (14 de Junho de 1967): Insegnamenti V
(1967), 801), bem ciente das graves dificuldades daquele tempo sobretudo no que
se referia à profissão da verdadeira fé e da sua recta interpretação.
Pareceu-me que fazer coincidir o início do Ano da Fé com o cinquentenário da
abertura do Concílio Vaticano II poderia ser uma ocasião propícia para
compreender que os textos deixados em herança pelos Padres Conciliares, segundo
as palavras do Beato João Paulo II, «não perdem o seu valor nem a sua beleza. É
necessário fazê-los ler de forma tal que possam ser conhecidos e assimilados como
textos qualificados e normativos do Magistério, no âmbito da Tradição da
Igreja. Sinto hoje ainda mais intensamente o dever de indicar o Concílio como a
grande graça de que beneficiou a Igreja no século XX: nele se encontra uma
bússola segura para nos orientar no caminho do século que começa» (João Paulo
II, Carta ap. Novo millennio ineunte (6 de Janeiro de 2001), 57: AAS 93 (2001),
308). Quero aqui repetir com veemência as palavras que disse a propósito do
Concílio poucos meses depois da minha eleição para Sucessor de Pedro: «Se o
lermos e recebermos guiados por uma justa hermenêutica, o Concílio pode ser e
tornar-se cada vez mais uma grande força para a renovação sempre necessária da
Igreja» (Discurso à Cúria Romana, (22 de Dezembro de 2005): AAS 98 (2006), 52).
6. A renovação da Igreja
realiza-se também através do testemunho prestado pela vida dos crentes: de
facto, os cristãos são chamados a fazer brilhar, com a sua própria vida no
mundo, a Palavra de verdade que o Senhor Jesus nos deixou. O próprio Concílio,
na Constituição dogmática Lumen Gentium, afirma: «Enquanto Cristo “santo,
inocente, imaculado” (Heb 7, 26), não conheceu o pecado (cf. 2 Cor 5, 21), mas
veio apenas expiar os pecados do povo (cf. Heb 2, 17), a Igreja, contendo
pecadores no seu próprio seio, simultaneamente santa e sempre necessitada de
purificação, exercita continuamente a penitência e a renovação. A Igreja
“prossegue a sua peregrinação no meio das perseguições do mundo e das
consolações de Deus”, anunciando a cruz e a morte do Senhor até que Ele venha
(cf. 1 Cor 11, 26). Mas é robustecida pela força do Senhor ressuscitado, de
modo a vencer, pela paciência e pela caridade, as suas aflições e dificuldades
tanto internas como externas, e a revelar, velada mas fielmente, o seu mistério,
até que por fim se manifeste em plena luz» (Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm.
sobre a Igreja Lumen Gentium, 8).
Nesta perspectiva, o Ano da Fé é
convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do
mundo. No mistério da sua morte e ressurreição, Deus revelou plenamente o Amor
que salva e chama os homens à conversão de vida por meio da remissão dos
pecados (cf. Act 5, 31). Para o apóstolo Paulo, este amor introduz o homem numa
vida nova: «Pelo Baptismo fomos sepultados com Ele na morte, para que, tal como
Cristo foi ressuscitado de entre os mortos pela glória do Pai, também nós
caminhemos numa vida nova» (Rm 6, 4). Em virtude da fé, esta vida nova plasma
toda a existência humana segundo a novidade radical da ressurreição. Na medida
da sua livre disponibilidade, os pensamentos e os afectos, a mentalidade e o
comportamento do homem vão sendo pouco a pouco purificados e transformados, ao
longo de um itinerário jamais completamente terminado nesta vida. A «fé, que
actua pelo amor» (Gl 5, 6), torna-se um novo critério de entendimento e de
acção, que muda toda a vida do homem (cf. Rm 12, 2; Cl 3, 9-10; Ef 4, 20-29; 2
Cor 5, 17).
Continua...
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