Dom Jaime Vieira Rocha (Arcebispo de
Natal-RN)
Estamos em plena comemoração do jubileu
de Ouro do maior evento eclesial do século XX: 50 anos do Concílio Vaticano II.
O Concílio pretendeu preparar a Igreja para a modernidade e abrir novos canais
de diálogo com o mundo contemporâneo, na tentativa de renovar as estruturas
eclesiais e possibilitar uma nova dinâmica para o testemunho de Cristo e o
anúncio do Evangelho. Decorrido meio século desde a abertura do Concílio e
considerando que, nos últimos 50 anos, as mudanças ocorridas no mundo, na
sociedade, na cultura, nas ciências, nos meios de transporte e de comunicação
foram maiores e mais radicais do que nos últimos 500 anos, ocorre naturalmente
a pergunta: é ainda atual o Concílio Vaticano II?
Para algumas correntes de pensamento, a
resposta parece clara: o concílio não apenas parece estar superado, como também
parece não ter atingido o seu objetivo, expondo ainda mais a Igreja aos perigos
do secularismo e do laicismo. Entretanto, a corrente de pensamento que é
majoritária e mais sensata interpreta a história pós-conciliar de modo mais
otimista e positivo, compreendendo que, para além de todas as dificuldades e
desafios, as orientações conciliares prepararam e possibilitaram de fato uma
abertura da Igreja para enfrentar com renovado ardor missionário e evangelizador
o tempo presente, falando diretamente ao coração e à consciência do homem
contemporâneo, revelando toda a beleza do Evangelho de Cristo e da vida cristã.
Desse modo, a exemplo do Documento
Gaudium et Spes, várias matérias importantes da vida interna da Igreja, da sua
pastoral e da sua vivência moral face aos desafios do mundo moderno e
globalizado foram determinadas, renovando a Igreja por dentro e por fora. A
intuição do Papa João XXIII de que haviam chegado “novos tempos” e de que a
Igreja precisava de se renovar acentua-se e alarga-se ao longo deste período e
não faltam sinais a confirmá-lo até os nossos dias, apesar dos percalços no
caminho percorrido. Os padres conciliares descobriram, pois, “o que o Espírito
tinha para dizer à Igreja” por meio da oração insistente, da paciência
histórica, do diálogo persistente, da organização funcional, da caminhada em
conjunto, da mútua colaboração de muitos cristãos e seus movimentos ou
comunidades.
Os Bispos do mundo inteiro, reunidos em
torno do Papa, realizaram assim uma experiência modelo que atualiza o episódio
de Pentecostes e aponta uma via a percorrer pelos discípulos missionários de
Jesus no testemunho da mensagem cristã no presente, abrindo caminhos para um
futuro cheio de esperança. O magistério, sempre esteve atento aos desvios e
abusos realizados em nome do “espírito do Concílio”, mas jamais deixou de
afirmar e expressar a validade das decisões conciliares, procurando ampliar a
organização eclesial participativa e o espírito de corresponsabilidade. O Papa
Bento XVI lembra que “trata-se de uma tarefa árdua, mas entusiasta para os
cristãos que querem viver em sintonia com a Oração do Senhor: ‘a fim de que
todos sejam um, para que o mundo creia’”.
A relevância do Concílio para a vida da
Igreja, em todos os níveis, é indiscutível. Assim, o Concílio Vaticano II surge
como o grande Dom do Espírito Santo à Igreja do século XX e permanece como
desafio para o nosso século XXI, a fim de que as suas propostas de renovação se
tornem espigas maduras na seara de Cristo, a sua Igreja que somos todos nós
batizados.
Fonte: http://www.saopedromaceio.com.br
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