Um dos problemas
enfrentados hoje pelas populações da Amazônia são os grandes projetos, que além
de causarem grande impacto ao meio ambiente, geram lucros para alguns e
provocam inúmeros impactos sociais negativos nas cidades onde estão instalados.
Esse foi o assunto principal da primeira coletiva oficial concedida à imprensa
na tarde desta terça-feira, 03 de julho, no Seminário São Pio X, como parte do
10º encontro dos bispos da Amazônia, que está sendo realizado em Santarém-PA.
A entrevista foi
concedida por dom Jesus Maria Berdonces, bispo da prelazia de Cametá e
presidente do Regional Norte I; dom Mosé João Pontelo, bispo da Diocese de
Cruzeiro do Sul e presidente do regional Noroeste; dom Roque Paloschi, bispo da
Diocese de Roraima e presidente do Regional Norte 1 e Monsenhor Raimundo
Possidônio, coordenador de Pastoral da Arquidiocese de Belém e historiador.
Dom Jesus Maria
Berdonces afirmou que a Amazônia é tida até hoje como uma colônia, aonde as
pessoas vêm, pegam a matéria prima, enriquecem e vão embora. “Esse é um modelo
capitalista pautado pelo governo para a Amazônia, que não leva em conta o povo
que aqui mora. Para eles, o povo é apenas um detalhe, que atrapalha o
desenvolvimento, ressalta”.
Ele destacou que existe
outro modelo defendido pela Igreja, cujo foco são os povos que estão na
Amazônia. “A igreja defende o incentivo à agricultura familiar, defende que os
lucros das riquezas (minerais e vegetais) sejam deixados na Amazônia, e que os povos
sejam ouvidos”.
Já dom Roque Paloschi
destacou que a questão é saber quem está usufruindo dos lucros desses grandes
projetos, que além de terem as bênçãos do governo, são financiados com o
dinheiro público. Ele ressalta que as populações não têm garantias, e suas
terras quase sempre são “abocanhadas” pelo agronegócio e por grupos econômicos
que aqui chegam.
Dom Roque defende o
respeito à biodiversidade, a participação de homens e mulheres amazônidas, que
possuem a sabedoria milenar e tradicional de cuidar do meio ambiente sem
agredi-lo. Ele espera que o encontro de Santarém provoque uma verdadeira
reflexão. “Nós esperamos contribuir para que uma reflexão aconteça para que
nossas comunidades se tornem sujeitos dessa região e não apenas vista como um entrave
no processo do desenvolvimento sonhado pelo agronegócio e pelo governo”, enfatiza.
Dom Mosé João Pontelo
afirma que os problemas estão aí, e isso requer responsabilidade dos pastores,
que são lideres dessa igreja. E o encontro de Santarém vai apontar qual será o
caminho a ser seguido nos próximos cinco anos.
Dom Jesus Maria
acredita que os bispos têm a obrigação de tentar iluminar a caminhada com a
Palavra de Deus, mas também assumir o desafio e o povo da Amazônia. “É
necessário não fugirmos da cruz de nosso Senhor, que é a cruz dos pobres e dos
povos desta região”, finalizou.
O 10º encontro dos
bispos terá um documento conclusivo e uma carta encaminhada aos governantes dos
Estados da Amazônia, outra ao Povo de Deus e uma ao Papa Bento XVI.
Nenhum comentário:
Postar um comentário