Dom Orani João
Tempesta
Arcebispo do Rio
de Janeiro (RJ)
Concluído o tempo
pascal, retomamos o “Tempo Comum” que dentro da liturgia dá continuidade às
celebrações dos assim chamados “tempos fortes” (Advento, Natal, Quaresma e
Páscoa). É a caminhada histórica da Igreja, que vai pelo mundo anunciando a
Boa-Nova do Amor de Deus, manifestado em sua presença pelo Mistério da
Encarnação e a nossa salvação celebrada no Mistério da Redenção. A tônica
desses domingos está na vida de Jesus, seus milagres, seus encontros, suas
atitudes junto ao povo de seu tempo, remetendo-nos ao seu dia a dia, tempo
fundamental em que o Reino de Deus é construído, revelado e propagado.
O tempo comum é o
espaço onde podemos conhecer mais de perto o jeito de ser de nosso Mestre.
Conhecer implica tempo, relação, aprofundamento e uma vivência mais próxima. O
tempo comum nos possibilita esta aproximação com o Senhor e nos ajuda a
perceber todo o mistério da salvação. Celebrar a cada dia e, em especial aos
Domingos, é a convivência, na liturgia, com a Palavra Viva, que é o próprio
Jesus.
Observando o jeito de
ser de Jesus, vamos descobrindo que toda a sua vida é salvífica e tende para o
bem de toda a criação. Cada gesto do Mestre descortina, diante do ser humano, a
possibilidade da salvação e da felicidade que só Deus mesmo poderia nos
proporcionar.
O Diretório da Liturgia
e da Organização da Igreja no Brasil, no ano do Senhor de 2012, faz referência
ao tempo comum da seguinte maneira: "A tônica dos domingos do tempo comum
é dada pela leitura contínua do Evangelho. Cada texto do Evangelho proclamado
nos coloca no seguimento de Jesus Cristo, desde o chamamento dos discípulos até
os ensinamentos a respeito do fim dos tempos. Neste tempo, também as festas do
Senhor e a comemoração das testemunhas do mistério pascal (Santa Maria,
Apóstolos e Evangelistas e demais Santos e Santas)”.
Uma referência bastante
significativa que nos possibilita uma compreensão ainda maior da riqueza do
tempo comum, quando a celebração do mistério pascal de Cristo, núcleo
fundamental de nossa fé, é vivida e comemorada também na vida de cada fiel e de
cada comunidade.
Por meio do Ano
Litúrgico e, dentro dele, o tempo comum, cada pessoa é chamada a configurar a
sua vida à vida de Cristo e Dele aprender a ter os mesmo sentimentos que Ele
teve. Mais, portanto, que uma simples repetição ou lembrança de fatos
acontecidos, a celebração da fé deve atualizar e alimentar a vida dos
batizados, tornando-se assim um caminho a ser percorrido e experimentado.
O tempo comum é o tempo
de tornar comum o mistério de Cristo em nossas vidas. Ajuda-nos a perceber que
Cristo é a realidade suprema e por excelência que jamais pode faltar em nossa
vida. Ele é a fonte que jorra e faz brotar a vida para toda a humanidade.
"Sem mim nada podeis fazer". (Cf. Jo15, 5)
Por meio dos hinos, dos
salmos, das leituras bíblicas, das preces de súplica e louvor, da oferta
generosa do povo de Deus que oferece suas primícias ao Senhor, o fruto de seus
trabalhos e esforços, celebramos o mistério de Cristo. Uma salutar expressão de
nosso caminhar pascal, percorrendo desde o nascimento de Cristo até sua morte e
Ressurreição, bem como a sua Vinda Gloriosa e Definitiva.
É, pois, na celebração
da Santa Missa, em todos os tempos de nosso caminhar litúrgico, que celebramos
a ação de Cristo e do povo de Deus hierarquicamente organizado e ordenado à
salvação, conforme suas condições próprias, oferecendo-lhes mais intensamente
os ensinamentos da vida de Cristo e fazendo da celebração o centro de toda vida
cristã, tanto para a Igreja universal quanto para a Igreja local e para a vida
de todos os seus fiéis.
Que o tempo comum, que
há pouco iniciamos, seja, portanto, a oportunidade de aprofundarmos o mistério
de Cristo e de sua vida, de configurar nossa vida à de Cristo mesmo e de nos
tornarmos discípulos anunciadores, missionários para que, olhando para o Cristo
o mundo creia e possamos promover juntos a civilização do amor, baseada numa
cultura de solidariedade e partilha onde todos, com o Cristo e o Pai, sejamos
um.
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