A LÍNGUA
Havia um escravo muito dedicado ao seu senhor. Muito inteligente, ele gostava de ouvir os sábios e observar a natureza e sua relação com a vida humana.
Corria a notícia de que ele fora um rei muito bondoso e humano. Mas foi aprisionado e vendido como escravo. Chamava-se Esopo.
Seu dono oferecia um banquete em casa e resolveu colocar Esopo em dificuldades. Chamou Esopo e, diante de todos, entregou-lhe algumas moedas. Pediu-lhe que fosse ao mercado comprar o melhor que havia para se comer. Todos conheciam a capacidade de Esopo e ficaram na expectativa da volta do escravo.
Transcorridos alguns minutos, entra Esopo no salão nobre e, diante de todos, apresenta ao rei uma grande língua. O espanto foi geral.
- O que é isso? – disse o rei em alta voz. – Tire esta coisa nojenta daqui! Como ousa me afrontar diante de meus convidados? Explique-se!
- Senhor, tu me pediste para que buscasse o melhor que há no mercado para ser comido. Eu te trouxe uma língua. E ela é responsável pela nossa comunicação. É através dela que Vossa majestade pode me dar uma ordem e elogiar os convidados. É através dela que sábios e artistas nos transmitem as sabedorias dos antepassados. Como vê, a língua é a melhor coisa que há.
Todos ficaram admirados, em silêncio, ouvindo Esopo. O rei, envergonhado diante da sabedoria de Esopo, deu-lhe outra tarefa.
- Então, agora, volte ao mercado e traga-me o que há de pior para ser comido. Entregou a Esopo outras moedas.
Esopo inclinou-se reverente e saiu. Pouco depois, retornou com outra grande língua na mão.
- O que é isso? Outra língua? Mas não disseste há pouco que a língua é o melhor para se comer?
- Sim. É verdade. A língua também é o pior que há para se comer. A língua é usada para a discórdia e a inveja. A língua, quando utilizada para maldizer e caluniar, provoca divisão e marginalização. Quando ela é mentirosa, é a pior coisa que há.
Dizem os contadores de histórias que Esopo ganhou a liberdade por causa da sua sabedoria. Mas, por causa da mesma sabedoria, ele sempre se fez um serviçal do amor.
Autor desconhecido
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