ENTRE A CARENTE
FARTURA DAS ÁGUAS
Pequeno Histórico de Antonio Marcos Maciel de Araújo
Texto: Adelmo
Barbosa/Flores - PE
Ao nomearem seus filhos, é comum às
famílias nordestinas homenagearem pessoas influentes, sejam artistas, atletas
ou outras personalidades de renome nacional ou de ascensão mundial. A
prerrogativa existe por conta da importância de tais personalidades ou pela
influência que elas exercem sobre os próprios cidadãos. Outras referências também
são feitas a pessoas que fizeram História, como Maria Antonieta, Joana D’Arc e
outros tantos que passaram às gerações seus feitos heroicos, contribuindo com a
sociedade de alguma forma.
Todavia, a Igreja sempre aconselhou as
famílias a colocarem em seus filhos nomes de santos ou bíblicos. O poeta
pernambucano, Ivanildo Vila Nova, em seu “Nordeste Independente”, escreveu: “As crianças seriam batizadas só com nome de
santo como a gente, não teriam mais nome diferente que não pode botar nem
apelido”. Uma realidade que vai ficando muitas vezes longe do imaginário
popular e já não faz parte da cultura religiosa nordestina, embora alguns ainda
a preserve.
O nome a seguir é um misto do que a Igreja
aconselha com os versos de Ivanildo e uma referência a personalidades que, de
uma ou de outra forma, fazem parte da história brasileira: ANTONIO MARCOS
MACIEL DE ARAÚJO.
Filho da terra do frio, o “Oásis do
Sertão”, popularmente conhecido por Marco Maciel, tem, ao mesmo tempo,
referências a santos e personalidade política, em seu nome. Ser político é uma
de suas virtudes. A política da boa fé, ensejada na formação mais eficaz da
Igreja Católica, sob a proteção da Virgem Maria. Por algum tempo, sob a
proteção da Virgem das Dores, e pela maior parte do tempo, sob as bênçãos e
proteção da Virgem da Conceição.
Tem uma relação muito familiar com a
região onde nasceu: o entorno da Serra da Baixa Verde, onde estão encravados os
Sítios Souto e Oiticica. No primeiro iniciou sua caminhada na fé cristã, sendo
batizado na Capela de São José, no dia 2 de maio de 1981, dois meses após seu
nascimento em 13 de março. No segundo, viveu a infância e começo da juventude, onde
recebeu na capela de São Francisco de Assis a Primeira Eucaristia no dia 03 de
junho de 1993 cuja opção tornou-se sua defesa mais tarde. Prenúncio talvez
daquilo que seria sua meta de vida. Confirmou sua fé, recebendo o Sacramento da
Crisma pelas mãos de Dom Francisco Austregésilo de Mesquita Filho no dia 27 de
Dezembro de 1997 na igreja matriz de Nossa Senhora das Dores em Triunfo.

Mantendo e alimentando o sonho, iniciou
seus estudos primários nas Escolas Municipais Mínima Souto e Manoel Rodrigues
Júnior, respectivamente nos Sítios Souto e Melancia. Foi para a tradicional Escola
João Henrique da Silva, na Vila Canaã, onde cursou o Ensino Fundamental II (5ª
à 7ª série). Migrando para Flores, cursou a 8ª série no histórico Grupo Velho
“o Aires Gama”, e o magistério na também tradicional Escola Onze de Setembro,
concluindo o Ensino Médio. Expandindo simpatia e humildade, marca principal de
sua característica pessoal, trabalhou como professor nas Escolas: Nova Geração
e Pedro Santos Estima, ambas em Flores. A profissão, não o desviou da vocação.
Seu projeto de infância eram outro: ser padre.
Renunciou à vida docente e, num pedido
formal ao Pe. José Ailton Costa da Silva, então pároco de Flores, ingressou no
Seminário Propedêutico São Judas Tadeu em Afogados da Ingazeira como
seminarista representante da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Flores,
terra que adotou como sua pátria-mãe. Encaminhado por este e por Pe. Claudivan
Siqueira Santos, apresentou-se ao bispo, Dom Frei Luis Gonzaga Silva Pepeu , no dia 02 de fevereiro de 2004,
Festa da Apresentação do Senhor. Permaneceu no propedêutico por um ano, como
determina a Igreja, seguindo para o Seminário Maior São Carlos Borromeu
em Recife para dar continuidade aos estudos filosóficos e teológicos.
Ali, cursou Filosofia (2005 a 2007) no
Instituto Salesiano e no Instituto de Filosofia e Teologia da Arquidiocese do
Recife. Neste último, iniciou o bacharelado em Teologia no ano de 2008, sendo
transferido a seguir para a Universidade Católica de Pernambuco, onde concluiu
o curso em 2011. Ali, recebeu o certificado de colação de grau no dia 31 de
janeiro de 2012, após defender o Trabalho de Conclusão de Curso (Monografia),
com o inédito tema: “Os fundamentos da Prática
Pastoral de Dom Francisco Austregésilo de Mesquita Filho” (primeiro
trabalho acadêmico sobre o “Profeta do Pajeú”), ideia singular, por se tratar
de um assunto inédito, o que lhe rendeu a nota máxima. Sem dúvida, um trabalho
de qualidade teria que ter uma história ímpar, daquele que defendeu
intrinsecamente a vida e a alma do povo sertanejo. Decerto, a nota não poderia
ser diferente.
Ainda em 2007, participou da visita do
Papa Bento XVI ao Brasil, representando a Diocese de Afogados da Ingazeira e o
Seminário São Carlos Borromeu. Esteve na missa de canonização de Santo Antonio
de Sant’Ana Galvão, no Campo de Marte – São Paulo e na visita do Papa à
Basílica de Nossa Senhora Aparecida, no interior daquele Estado. Prova disso,
foram as diversas reportagens feitas de forma espontânea e gratuita para a
Rádio FLORESCER – FM, em Flores.
Morou em Recife por sete anos, atuando
como seminarista e realizando pastoral nas Paróquias de São Francisco de Assis
do Rio Doce em Olinda; São Sebastião, no Alto Pascoal; Nossa Senhora do Bom
Parto, em Campo Grande; São Paulo Apóstolo no Jardim São Paulo e Nossa Senhora
do Perpétuo Socorro – Jardim São Paulo/Piracicaba em Recife.
Terminados os estudos filosóficos e
teológicos, antes da colação de grau, no dia 30 de janeiro de 2012, participou
da missa pela conclusão do curso na Capela de Nossa Senhora da Graça, no
Seminário de Olinda.
De dezembro de 2011 à janeiro de
2012 por indicação de
Dom. Egídio Bisol, participou da 5ª
Experiência Missionária na Diocese de Santarém, no estado do Pará. Levando a
Boa Nova às comunidades ribeirinhas do município de Almeirim, com outros 82
missionários. Ali, experimentou a realidade de uma igreja que precisa estar
mais presente no meio dos povos mais oprimidos do nosso país.
Andarilho das águas perenes ou
intermitentes, filho do frio, sonhador da vocação sacerdotal, não deixou o
Pajeú. Tornou-se seminarista de Flores, para onde sempre retornou em seus
momentos de férias. Ajudando nas celebrações eucarísticas e festas da Padroeira
com dedicação, zelo e vontade vocacional.
Em outros momentos, era possível
vê-lo contribuindo com as ações diocesanas, fosse nas celebrações solenes,
fosse nas atividades pastorais. No Centro Diocesano, no imponente Stella Maris,
contribuiu com os cursos promovidos pela Diocese, entre os quais, o Curso
Bíblico-Teológico para Leigos, atuando como secretário adjunto. Foi palestrante
no Curso “Teologia e Vida no Planeta”, em julho de 2011, promovido pela Diocese
de Afogados da Ingazeira e a Universidade Católica de Pernambuco; ministrou
aula sobre o tema “Fraternidade e Vida no Planeta”.
O sucesso na apresentação rendeu-lhe,
juntamente com os demais palestrantes, todos seminaristas, sob o olhar atento
de dois professores da exigente Universidade, a menção honrosa de exímia
apresentação, feita pelos mais de 50 participantes do Curso e rescaldada nas
palavras de seus professores como de uma capacidade digna de respeito, provando
estar, assim como seus irmãos, pronto para o ministério.
No retorno à Diocese foi aninhar-se
nas asas de Luisinho, Padre-poeta, ícone da juventude pajeuzeira da década de
1980, na Paróquia de São José, na terra-mãe da sede da Diocese – Ingazeira.
Marcos é o símbolo do amor pela
vocação religiosa. Tem em Maria sua protetora.
Nas Dores, seu nascimento e os primeiros
passos na iniciação cristã, debaixo do frio de uma Terra que teima em ser brisa
em um escaldante Sertão. Da Conceição é filho por vontade própria. Por
iniciativa e por adoção. Traz no semblante a singeleza do povo florense, da
água que desce no Pajeú: às vezes caudalosa, às vezes serena, às vezes, nem
sempre...
Adotou Flores como sua terra e a
Virgem da Conceição como sua padroeira. Da imponente Matriz das Dores, pediu
licença para ser serviço na secular Igreja-mãe.
Não faz da humildade, humilhação, nem
subserviência. Usa-a como instrumento de amor ao próximo através do serviço à
Igreja de Cristo; seja nos brejões de Triunfo, na amada Flores, nos morros,
favelas ou bairros nobres do Recife, nas carentes águas perenes da Amazônia ou
na simplicidade das ingazeiras do lendário Pajeú.
Cresce na aba do chapéu sertanejo,
gotejando simplicidade sem carência. Expandindo amor, capacidade e coragem por
uma vocação ao mesmo tempo intrigante e eloquente.
Nas águas fartas do Amazonas, turvas do
Capibaribe/Beberibe ou raras do Pajeú, abraça a causa do Reino, sob o eco da
voz de Jesus: “Sigam-me, e eu farei de vocês pescadores de homens” (Mt. 4,19).
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